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quinta-feira, 18 abril, 2024

A ancora da guerra afunda esperanças de paz na Ucrânia

O presidente da Ucrânia, o magnata Petro Poroshenko (Foto: Valentyn Ogirenko / Reuters)

Moscou (Prensa Latina) Os atuais governantes da Ucrânia, comprometidos com setores ultra-nacionalistas, oligarcas e forças externas que propiciaram sua violenta chegada ao poder, mantêm por um fio a garantia dos acordos de Minsk em busca de uma paz negociada.

Meras 24 horas antes de acabar 2015, os líderes da Alemanha, França, Rússia e Ucrânia (Quarteto da Normandia) tiveram uma longa conversa telefônica sobre os acordos na capital da Bielorrússia entre Kiev e as insurgentes Repúblicas Populares de Donetsk (RPD) e Lugansk (RPL).

Pressionados por um aumento das tropas e meios de guerra da Ucrânia na faixa de separação com os rebeldes, os Quatro da Normandia decidiram prolongar o prazo de vigência do acordo de 12 de fevereiro em Minsk até 2016.

O chefe do Kremlin, Vladimir Putin, seus pares Françoise Hollande da França, Petro Poroshenko (Ucrânia) e a chanceler alemã, Ángela Merkel, enfatizaram “a necessidade crucial de cumprir com precisão o regime de cessar fogo na linha de contato em Donbass”, destaca um comunicado.

Segundo o texto da residência presidencial russa, esse cumprimento “criaria as premissas para levar a cabo as tarefas relacionadas ao avanço da normalização política”.

Os líderes indicaram que foi acordado ativar as negociações do chamado grupo de contato, destinadas à implementação da lei sobre as eleições locais nas regiões de Donetsk e Lugansk.

Além disso, obrigam os ministros de Assuntos Exteriores do quarteto a analisar detalhadamente, no começo de 2016, o processo de cumprimento do compromisso assinado em Minsk, e foi anunciada a continuidade dos contatos diretos entre os quatro governantes.

ALERTA DE LAVROV

Ao destacar os acordos de Minsk sobre o conflito ucraniano como uma das grandes conquistas de 2015, o chanceler russo, Serguei Lavrov, considerou importante frear as tentativas de sua revisão, “algo que estamos observando”.

Em entrevista ao canal de televisão russo Zvezda, Lavrov lembrou que os 13 pontos desse entendimento foram assinados depois de “negociações maratônicas de várias horas” com a participação de chefes de Estado.

“E agora nos dizem que o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, tem problemas políticos internos e não pode cumprir os acordos integralmente, motivo pelo qual não deve ser tomado ao pé da letra”, criticou o chefe da diplomacia do Kremlin.

Explicou que o documento assinado em fevereiro na capital da Bielorrússia fala da descentralização como cláusula da Constituição e garante o direito de usar o idioma russo em Donbass (sudeste da Ucrânia), nomear fiscais e juízes, ter forças policiais próprias e vínculos econômicos com a Rússia.

Comentou que Kiev pretende substituir estas prerrogativas políticas por uma simples referência na Lei Fundamental de que esses territórios podem “ser submetidos a regras especiais referentes ao autogoverno”.

Lavrov denunciou que o presidente Poroshenko se deixa levar por caminhos de enfrentamento e assume uma retórica anti-russa apesar de ter “todas as possibilidades de enfrentar os radicais, os extremistas, que tentavam o culpar de traição à nação”.

Em relação à União Européia (UE), Lavrov indicou na entrevista que, separadamente, a maioria dos 28 consideram um erro as discrepâncias com Moscou devido a seu repúdio à situação criada em Kiev, depois da ruptura da ordem constitucional em 22 de fevereiro de 2014.

 

A própria Ucrânia caiu vítima da política da UE, que tentou forçar uma escolha entre Rússia e Bruxelas, lembrou o ministro, e em lugar de um Governo de unidade nacional, contemplado no compromisso promovido pela Alemanha, França e Polônia como “garantes”, o que aconteceu foi um golpe de estado a mão armada.

Sobre os europeus, o titular disse a Zvezda que o que dizem “cara a cara, quando ninguém ouve”, se contradiz as vezes com o que declaram publicamente.

Fazem referência ao cumprimento dos acordos de Minsk e dizem que “então voltaremos à normalidade, à associação estratégica”, mas quando se reúnem e emitem declarações públicas, não podem expressar o mesmo.

“Tenho a impressão de que nossos sócios ocidentais tentam esconder a total incapacidade de disciplinar seus tutelados em Kiev sob procedimentos vergonhosos relacionados ao prolongamento das sanções contra a Rússia”, disse o ministro russo.

Recentemente, os 28 acordaram prolongar as represálias contra Moscou pelo menos até 31 de julho de 2016, com o pretexto de que os acordos de Minsk entre Kiev e as insurgentes RPD e RPL não se cumpriram plenamente até 31 de dezembro de 2015.

WASHINGTON RECONHECE INCUMPRIMENTOS DA UCRÂNIA

Durante uma visita a Kiev no último dia 10 de dezembro, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, exigiu como condição de seu apoio à Ucrânia o cumprimento dos acordos de Minsk e verdadeiras reformas contra a corrupção.

Segundo o analista político Alexandr Paliy, apesar dos elogios e promessas de ajuda de Washington, essas duas exigências foram denominador comum das reuniões de Biden com a elite que chegou ao poder depois do golpe de estado de fevereiro de 2014.

Paliy alertou que essas demandas ficaram evidentes no discurso do visitante perante a Suprema Rada (Parlamento unicameral), onde deixou transparecer a posição incômoda do Ocidente devido ao incumprimento por parte de Kiev dos compromissos que estão escritos.

“Anistiar àqueles que não cometeram crimes graves, descentralização, emendas à Constituição. Para poder contar com o apoio do mundo, temos que cumprir nossas obrigações”, recordou o analista.

O também politólogo Vitaly Bala opinou que o objetivo fundamental da viagem de Biden a Kiev é o cumprimento pela parte ucraniana dos acordos de Minsk.

Mencionou especialmente a mudança na Constituição e a realização das eleições nas insurgentes RPD e RPL, passos que Kiev não consegue planejar devido à pressão dos partidários da guerra e por não dialogar diretamente com os rebeldes.

Bala sublinhou que Washington, através de Biden, tentou pressionar para conseguir 300 votos no debate dedicado à reforma constitucional e, dessa forma, manter o status quo existente hoje no poder.

O mundo acredita na Ucrânia e espera avanços da Ucrânia, expressou o presidente Petro Poroshenko, ao se referir à intervenção de Biden perante o Parlamento em uma reunião convocada com urgência para discutir a reforma fiscal, segundo o site do presidente.

O milionário devindo chefe de Estado reconheceu que não foi só uma mensagem dirigida ao exterior, mas principalmente à necessidade de que a Ucrânia implemente todos os pontos dos acordos de Minsk.

OS ATAQUES MAIS RECENTES

O serviço de inteligência da RPD reportou em 29 de dezembro que na última semana havia detectado perto da linha de separação mais de 100 unidades de diversos lança-mísseis, blindados e outros carros de combate em Slidovo e em Novosiolovka.

Além disso, cerca de 200 mercenários estrangeiros com distintivos do Exército de Kiev avançaram sobre a região de Artemovsk em um momento no qual os governantes perdem o controle sobre os grupos nacionalistas, mas aproveitam esta situação para culpar os voluntários de seus crimes, disse o porta-voz da RPD, Eduard Basurin.

O porta-voz enfatizou que as ações das tropas ucranianas provocam uma escalada da tensão na linha de contato, enquanto Kiev prega o “cumprimento unilateral dos acordos de Minsk” e no entanto faz tudo possível para frustrá-los.

Ao opinar sobre esta situação, o presidente do Comitê de Assuntos Internacionais da Duma Estatal da Rússia (câmara baixa parlamentar), Alexey Pushkov, considerou, no entanto, que o conflito em Donbass (sudeste da Ucrânia) é a único maneira que Kiev pode manter o interesse do Ocidente sobre a Ucrânia.

Nestas circunstâncias, o conflito em Donbass é, por uma parte, a única via para manter o interesse dos Estados Unidos e seus aliados, e portanto, de preservar a injeção financeira e a possibilidade de utilizar esses recursos com objetivos corruptos.

Por outro lado, esta é uma oportunidade para continuar dizendo ao povo ucraniano que seu país está em guerra. Durante o confronto, os protestos sérios, as reivindicações e as demonstrações estão fora de lugar, agregou o legislador.

Portanto, essa crise morna é vantajosa para o regime de Kiev, agregou Pushkov, quem lembrou que a Ucrânia hoje sobrevive só graças à assistência financeira do Fundo Monetário Internacional.

Se as tensões na região de Donbass diminuírem, as autoridades em Kiev são capazes de não demorar em se mostrar para o Ocidente como “vítimas de Moscou”, o que pode ser usado contra a Rússia, concluiu o deputado.

*Correspondente da Prensa Latina na Rússia.

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