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terça-feira, 19 março, 2024

Analistas e militares mostram ‘mão armada’ dos EUA no genocídio em Ruanda

© AFP 2017/ Simon Maina

Jornal britânico The Guardian publicou os resultados da investigação do genocídio em Ruanda de 1994, que são completamente o oposto do imaginado.

De acordo com o artigo chamado “A função secreta dos Estados Unidos no genocídio em Ruanda”, o assassinato do presidente Juvénal Habyarimana [hutu] teria sido planejado com o apoio da Agência Central de Inteligência e desencadeado o massacre, que levou a vida de aproximadamente 800 mil pessoas.

Um especialista, que preferiu não se identificar por questões de segurança, falou para a Sputnik que a investigação foi recebida negativamente pelas autoridades de Ruanda. A versão dos acontecimentos de 1994 foi proposta pelo BBC, o que impulsionou a proibição do canal em Ruanda pelo parlamento local.

Ambas as investigações da mídia britânica acusam Paul Kagame (presidente do país desde 2000) de estar envolvido no assassinato do ex-presidente Juvénal Habyarimana, quem governou de 1973 a 1994. Além disso, a mídia estrangeira fala sobre maiores perdas entre hutus, ao invés dos tutsis, assassinados pela Frente Patriótica Ruandesa.

Por razão parecida, em 2006, Ruanda rompeu relações diplomáticas por três anos com a França depois de o juiz francês Jean-Louis Bruguière ordenar detenção de várias pessoas próximas a Kagame como se estivessem envolvidas no assassinato do ex-presidente Juvénal Habyarimana.

O atual presidente de Ruanda “sempre contou com apoio do clã Clinton, em particular, de Madeleine Albright”, afirma o coronel Jacques Ogar, que liderou uma das três unidades de operação de paz chamada Turquoise a mandato da ONU desde junho de 1994.

“Não foram os hutus que mataram os tutsis, e sim os tutsis que mataram os hutus. Mas sobre isso não se pode falar. Esse tema é considerado tabu já que joga uma sombra nas autoridades atuais de Ruanda”, frisa o coronel, acrescentando que “o genocídio em Ruanda foi usado para fins políticos. O ano de 1994 foi uma mera continuação de massacres, que foram continuados em 1995, 1996, 1997, sobre os quais todos se calam”.

Segundo o coronel, depois da criação da missão Turquoise, os norte-americanos “ficaram furiosos ao ver que a França estava voltando à região”. Ele explicou que “Ruanda e Uganda atualmente ajudam os EUA, apoiando grupos armados em Katanga e Kivu [regiões da República Democrática do Congo que faz fronteira com a Uganda e Ruanda]. No início dos anos 90, a França tinha influência em Ruanda por ela ter sido colônia belga no passado e por ser francófona. Os EUA tentaram de tudo para eliminar potencial concorrente [França] que seria capaz de seguir rumo aos recursos minerais [da região]”.

Os norte-americanos queriam controlar a região rica em recursos minerais, e conseguiram. Jacques Ogar continuou dizendo que “todas as riquezas fenomenais de Katanga e Kivu são transportadas aos portos da África Oriental e depois seguem para companhias norte-americanas, israelenses e britânicas”.

Leslie Varenne, jornalista e especialista em assuntos africanos, também acredita que os EUA ajudavam Paul Kagame: “O exército de Kagame recebia armas em Uganda, e Uganda estava sendo influenciada pelos EUA. Kagame recebia as armas através de Uganda, onde estava localizada uma base, constatando participação dos EUA. Na época, o seu objetivo era retomar influência na África. Além disso, eles queriam se livrar de Mobutu [ex-ditador de Zaire], que eles mesmos levaram ao poder”.

“As acusações de revisionismo são apresentadas para justificar Kagame cada vez que voltam a esta história. Sempre surge uma frase ‘os partidários do revisionismo’, porque as palavras genocídio e revisionismo estão lado a lado.”

“Quem derrubou o avião onde estava Habyarimana? […] No artigo [publicado no The Guardian] a resposta é a seguinte: o avião foi derrubado por pessoas de Kagame da Frente Patriótica Ruandesa, o que levou ao genocídio. Kagame nunca vai dizer: ‘sim, fui eu que derrubei o avião.'”

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