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sexta-feira, 29 março, 2024

A Argentina se levantará nos dias 6,7,8 de Março

Argentinos querem um basta do governo Macri nas ações contra os trabalhadores
Helena Iono*
O povo argentino, decidido a um ano “caliente” de lutas para dizer um “Basta!” às atrocidades econômicas do governo Macri contra os trabalhadores, mostrará músculo, sairá às ruas de braços unidos (Centrais sindicais operárias de fábricas e dos transportes, das CGTs às CTAs, sindicatos de professores e educadores, funcionários públicos, estudantes e familiares, movimentos sociais, intelectuais, mães e avós de desaparecidos, organizações de bairro, desempregados das pequenas e médias indústrias e comércio), pequenos produtores rurais, nos dias 6,7 e 8 de março.
Dia 7M
O dia 7M promete ser uma data marcante depois da histórica despedida dos 700 mil à ex-presidenta Cristina Kirchner no dia 9 de dezembro de 2015, em que todos cantavam com lágrimas: “Vamos voltar, vamos voltar!”.
Aí vem a Argentina peronista que não se ajoelha. A união das centrais sindicais operárias, divididas nos últimos anos em várias frações, é um dos fatores importantes deste ato. A palavra de ordem unificadora será: “Por trabalho e educação”. O retorno violento do neoliberalismo, via Macri, favorecendo oligarcas e empresários  (a começar por si mesmo, suas empresas familiares, negócios e falcatruas várias em Off-shores no Panamá), mais de 500 mil novos desempregados do Estado, das médias e pequenas empresas e comércios que fecham a olhos vistos (vitimadas pelas importações), tarifas impagáveis de energia e transporte público, ameaças à organização sindical e política, tudo isso, indica ter chegado ao limite da paciência do povo. Por isso, nesta data, anunciam estar presentes também dirigentes dos setores burgueses, e da burocracia sindical que apoiaram o governo atual, e que sentem perder suas bases sociais e eleitorais, pequeno-burguesas, ligadas ao comércio e à indústria. Tudo indica que o 7M será histórico ou pelo menos um terremoto dentro do governo Macri, transbordado por escândalos e corrupções várias do presidente em primeira pessoa.
A maior delas, a da auto-anistia da dívida da empresa Socma (da família Macri) ao Estado, quando acionária do Correio Argentino, antes da nacionalização de 2003. O governo, dirigido por Macri, anistiou 98,87% da dívida do Grupo Macri ao Estado.  Medida que foi contestada posteriormente no Congresso que convocou o Franco Macri (pai), a Secretária de governo da Luta Contra a Corrupção, Laura Alonso, e o Ministro das Comunicações, Aguad, que declarou que Macri sabia das transações, demonstrando que este é mentiroso e corrupto. Há um processo em curso, mas, com impunidade típica da ditadura. Já não bastasse o escândalo do Panamá Papers. Macri declara déficit do Estado, para justificar a redução da aposentadoria, enquanto rouba descaradamente como estadista a favor de seus interesses pessoais. A medida extorsiva contra os velhos aposentados não passou ainda, devido à pressão  social e até oposição interna em Cambiemos, mas mostra a antessala de uma privatização em curso no sistema previdenciário, que foi nacionalizado na era Kirchner. Mas, o golpe marcha, porque enquanto os aposentados concentraram a atenção contra este ataque, outra medida na surdina foi decretada:  o governo Macri, praticamente eliminou a lista dos remédios de urgência subsidiados pelo estado e distribuídos até hoje gratuitamente nos hospitais públicos. Da lista de 74 remédios, sobraram somente 7. Ninguém ainda percebeu, a mídia ocultou e somente o canal televisivo C5N denunciou, no programa “El Destape” de Roberto Navarro.
O segundo, ostensivo ato de corrupção, à sombra da bastonada contra a vida do trabalhador despojado em poucos meses dos seus direitos mínimos à vida, é o da Avianca e o favorecimento às empresas aéreas “low-cost” de propriedade da família Macri e funcionários do governo. A A.N.A.C. (Administração Nacional de Aviação Civil), entregou rotas aéreas, que eram da Aerolíneas Argentinas, às empresas “low-cost” e à Avianca por 15 anos, depois que esta comprou em 2016 a companhia aérea Macair Jato, propriedade do conglomerado econômico do pai do presidente, o empresário Franco Macri.
Para tapar tudo isso, e tirar o centro das atenções dos problemas econômicos candentes do país, o Partido Judiciário-Midiático, ocupa a TV contra Cristina Kirchner e seus filhos, com as típicas falsas e infundadas acusações sobre o caso Los Sauces (*). Nada diferente de Moro-Globo contra Lula, Marisa Letícia, sua família e o PT.  Contrariamente ao que os adeptos de Cambiemos dizem de que o Judiciário não tem que se meter em política, o juiz Bonadio, perseguidor de Cristina, por causa infundada, servidor do governo atual, convocou-a, com provocatória coincidência, nessa mesma data, 7 de março (7M), a depor no Tribunal (Comodoro Py). Com objetividade e grandeza política, Cristina, convocou todos a irem na manifestação dos trabalhadores e não a defendê-la e protestar diante do tribunal. Disse: “Por favor, vão todos juntos lá na manifestação dos trabalhadores unidos, no 7 M. Isso é mais importante!”.
Dia 6 M
Este dia, precederá o bombástico dia 7M, e será o dia da dignidade dos professores e educadores do ensino público na Argentina. A greve de dois dias, votada em assembleias de base, e a adesão dos professores às manifestações do 6 e 7 de março é pelas paritárias a nível nacional (e não estadual, como quer o governo, contrariando a lei vigente), contra um miserável 18% acenado pelo ministro da educação (quando a inflação chega a 40%), contra o corte nos fundos do Estado para manutenção, bolsas de estudo, material, alimentação, etc.. nas escolas. Enfim, será o dia da dignidade em que os professores com apoio da sociedade, pais e alunos, manifestarão sua decisão de luta, não obstante todas as ameaças declaradas contra dirigentes sindicais, como Baradel (Ctera, Suteba, contra o conjunto de medidas econômicas de Macri, que arrasam as conquistas já alcançadas neste país na década passada. Mil ameaças, como no início do século passado, para impedir a greve, conspirando um financiamento de um exército de “voluntários”, fura-greves, obrigando diretores de escola a delatar professores grevistas, e ameaçando de morte aos filhos do principal dirigente sindical, como na época da ditadura. Tudo indica que nada disso deterá a determinação dos professores argentinos pela educação pública e a soberania cultural. (Leia https://www.pagina12.com.ar/23712-amenazados)
Dia 8 M
E com feche de ouro, as mulheres e os homens, apoiados pelos sindicatos (CTA, CGT) e vários organismos políticos e populares, sairão às ruas, no dia Internacional da Mulher com greves e manifestações para não só defender o direito salarial igualitário, condições de trabalho, mas para rebater uma situação social, de violência contra as mulheres, no seio das famílias, de feminicídio diário, que não deixa de ter raízes no desconcerto, loucura e desiquilíbrio social, exacerbado por um capitalismo em decadência que não oferece horizontes aos seres humanos.
Nos dias 6, 7 e 8 M, o povo argentino se apoderará das ruas para demonstrar sua vontade de recuperar o projeto nacional e popular do peronismo-kirchnerismo, interrompido pelo golpismo-judicial-midiático travestido de eleições democráticas, e talvez, por uma dose de falhas, insuficiências e falta de unidade dentro da própria esquerda em fins de 2015. Por isso, 6,7 e 8 M, serão dias de luta, mas também de festa da unidade imprescindível do movimento operário-sindical que representará a volta prometida em 9 de dezembro de 2015: “Volver, vamos a volver”!! (Voltar, voltaremos!!)
* Helena Iono é correspondente da TV Comunitária do DF em Buenos Aiares
5/3/2017
(*) https://www.pagina12.com.ar/18930-caso-los-sauces-mentiras-para-ocultar-los-problemas-del-pais
Leituras sugeridas:
Por Luis Bruschtein
https://www.pagina12.com.ar/23265-no-hay-mas-lugar-para-cinismos
Por Washington Aranga:
https://www.pagina12.com.ar/22842-plan-sistematico
Futebol e Lei de Medios
https://www.brasildefato.com.br/2017/02/16/macri-privatiza-direitos-de-transmissao-do-futebol-na-argentina/

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