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quarta-feira, 27 março, 2024

Brazilian Freak Show?

Por Luiz Fernando Leal Padulla*
Já disse outras vezes que nem Hitchcock e seu suspense imprevisível, muito menos o mestre Luis Buñel e todo seu surrealismo, seriam capazes de elaborar um script tão mirabolante e  inimaginável como consegue Jair Bolsonaro. Tarantino que me perdoe, mas também ficaria anos-luz atrás, afinal, jamais retrataria tamanho derramamento de sangue jorrando dos guetos e comunidades com a política excludente de ilicitude de comandos da morte.
Quando um presidente (sic) conseguiria em tão pouco tempo de (des)mandato ter a atenção negativa do mundo voltado para si?
Nomeia pessoas despreparadas, alucinadas, que não medem se quer suas palavras para falar ao público.
É tanta “buona gente”, que facilmente seriam tratadas como personagens que faço questão de enumerá-las:
1) Ministra Damares: uma evangélica, assumiu o ministério da Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ter sua crença, ok. No entanto, em um estado laico, ignora isso e, tal como seu chefe, em tudo coloca seu “deus” e defende leia com bases cristãs. Profere barbáries dizendo que “azul é de menino e rosa de menina”, que não se deve discutir identidade de gênero e continua acreditando no tal “kit gay”;
2) Abraham Weintraub: um lunático, carrancudo, ocupando o cargo de Ministro da Educação. Um “expert” que comete erros crassos de português em suas postagens, e ainda por cima defende a teoria da Terra plana, e que nas universidades públicas, prevalece a balbúrdia, com festas e orgias correndo solto, regadas às plantações de maconhas nesses locais, além da produção de drogas sintéticas. Este mesmo sujeito, olavete de carteirinha, também defende que professores sejam filmados e denunciados pelos alunos;
3) Olavo de Carvalho: eis o guru do desgoverno. Um astrólogo/filósofo, que se autointitula uma mente brilhante e um intelectual impar. É quem dita as regras e direciona o clã bolsonarista em seus atos. Apesar de “intelectual”, defende o benefício dos cigarros, acreditar que adoçantes da Pepsi são feitos com células de fetos, que o aquecimento global é uma farsa e, claro, que a Terra é plana;
4) Dante Mantovani: atual presidente da Funarte, defende que os Beatles surgiram para promover o comunismo. Também afirma que a CIA distribuiu LSD durante o festival de Woodstock, para fazer de um experimento social. Por fim – para não cair na gargalhada – diz em seu canal do YouTube que “rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto e ao satanismo”;
5) Sérgio Nascimento de Carvalho: um negro, que assumiu a presidência da Fundação Palmares…e nega o racismo! Além disso, nega a escravidão no Brasil e diz que ela foi benéfica aos negros e negras. Para tanto, defende o fim do Dia da Consciência Negra, do movimento negro e ataca importantes personalidades como Zumbi e Dandara. Surge um novo capitão-do-mato em pleno século XXI;
6) Ricardo Salles: o ministro do Meio Ambiente…condenado por crime ambiental por fraudar processo do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, ao ocupar a pasta também do Meio Ambiente durante a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB). Não crê, também, que o ser humano tenha influência no processo de aquecimento global e que seja um assunto para ser discutido daqui a 500 anos. Defende a plantação de soja transgênica em terras indígenas e a redução dos controles sobre agrotóxicos. Em meio ao avanço das queimadas e a relação com os desmatamentos na Amazônia, afirma que é mera “pirotecnia” da fiscalização ambiental;
7) Teresa Cristina, “a musa do veneno”: indo na contra-mão da tendência mundial, o Brasil bate seus próprios recordes ao liberar e legalizar cada vez mais agrotóxicos. Em atendimento à bancada do agronegócio, com o patrocínio de grandes empresas e corporações, a ministra autoriza a toque de caixa produtos químicos que contaminam o ambiente, as águas e o próprio alimento do povo – muitos desses agrotóxicos, já proibidos mundo a fora. Atualmente já agradou ao agronegócio com a liberação de mais de 400 venenos;
8) 01, 02, 03, os filhos do clã Bolsonaro: eis que os filhos de Bolsonaro não podem ficar de fora. Apesar de não ocuparem um cargo oficial no (des)governo, são responsáveis diretos pelas atitudes – e tuítes – do pai. Eduardo Bolsonaro queria ser embaixador, e achava que apenas seu desejo fálico-freudiano por pistolas seria suficiente para tal cargo. Carlos, o enrustido, cada vez mais aparece envolvido na morte de Marielle Franco e a milícia carioca. Já seu irmão Flávio, ficou famoso principalmente pelo laranjal envolvendo o “vendedor de carros” Fabrício Queiróz, a tal “rachadinha” enquanto deputado estadual – o que obrigava a devolução de parte do salário de funcionários para ele mesmo ou pessoas de confiança. Sem falar que o clã ainda culpa ONGs e ambientalistas de colocar fogo na Amazônia, criando uma cortina de fumaça para verdadeiros fatos;
9) Sérgio Moro, “o herói”: desmascarado cada vez mais, principalmente pelas investigações jornalista do The Intercept, o ex-juiz (sic) ficou famoso por burlar as leis e a própria Constituição, ao condenar o ex-presidente Lula – mesmo sem provas e apenas com base em ódio político e convicções substanciadas pelo judiciário corrompido – e evitando assim sua eleição, o que abriu caminho para o discurso anti-petista e a vitória de seu chefe Bolsonaro. Em troca, como provado, negociou o cargo de Ministro da Justiça;
10) Ronaldinho Gaúcho: por mais habilidoso que tenha sido com a bola nos pés, sua indicação como embaixador do Turismo pela Embratur, retratou a figura machista e de exploração sexual das mulheres brasileiras, além de vincular a imagem de país da malandragem. Paralelamente, por construções irregulares em áreas de preservação ambiental às margens do lago Guaíba, em Porto Alegre, e multas que somam quase 10 milhões de reais, Ronaldinho está com o passaporte retido, não podendo sair do país;
11) Richard Rasmussen: sua fama em programas televisivos fez com que fosse nomeado embaixador do Turismo no Brasil. No entanto, poucos sabem que já foi autuado pelo IBAMA por mais de 10 vezes, incluindo tráfico de animais, criadouro irregular e indícios de perturbação e maus tratos à fauna silvestre;
12) Paulo Guedes: o tal ministro da Economia, da escola de Chicago e sua adoração e contribuição com a ditadura militar do Chile através de um programa econômico ultraliberal, cujo reflexo, hoje, pode ser notado através das manifestações e insatisfações da populaçao chilena. Além de sua tara neoliberal, suas recentes declarações de apoio e alusão ao AI-5, causaram não apenas asco e repulsa entre os brasileiros, mas também receio e aversão de investidores;
13) Rafael Nogueira: novo presidente da Biblioteca Nacional teve a coragem (?) de dizer que livros didáticos estão cheios de músicas de Caetano Veloso, Gabriel O Pensador, Legião Urbana e isso seria a causa “de todo mundo analfabeto”;
14) Ernesto Araújo: o que dizer de um ministro de Relações Exteriores, escandalosamente cristão apesar do estado laico, que declara sua intenção em libertar o mundo da ideiologia anticristã do globalismo, uma teoria da conspiração conhecida como marxismo cultural? O mesmo sujeito que nega o aquecimento global, uma vez que “a esquerda sequestrou a causa ambiental e a perverteu”? Isso sem falar que o tal diplomata ainda defende que o nazismo e o fascismo são resultados de “fenômenos de esquerda”.
É meus caros, por mais incrível que possa parecer, não são meros personagens fictícios, mas aqueles escolhidos para representarem a “nova política”. Pessoas escolhidas a dedo, de acordo com sua falta de qualificação, para subsidiarem os desmontes do país e promover o retrocesso a cada dia, além, é claro, de expor o Brasil ao ridículo.
(Felizmente eu e vários camaradas e companheirxs de luta temos orgulho de dizer que essa vergonha nós não passamos. E digo mais: que saudades que tenho quando ministros e ministras eram Fernando Haddad, Gilberto Gil, Celso Amorim, Benedita da Silva, Márcio Thomaz Bastos, Carlos Lupi, Dilma Rousseff, Franklin MArtins, José Dirceu, José Graziano, Tarso Genro, Jacques Wagner, Maria do Rosário, Gleisi Hoffmann e tantas outras pessoas realmente competentes e gabaritadas. Ah, que saudade do PT!)
A vantagem disso tudo? Talvez sirva de inspiração para novo filme de terror no estilo de Stanley Kubrick ou Stephen King, pois tamanha bizarrice jamais foi vista nem mesmo no cinema. Mas agora, quem está nesta fatídica direção  é um canalha misógino, preconceituoso, despreparado, inconsequente e cujo direção para ser de filme ora comédia-pastelão, ora terror trash de quinta categoria. Azar dos personagens que sofrem nas mãos e atuações dessa gentalha.
E não foi por falta de aviso, é bom lembrar!
*Professor, Biólogo, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências, autor do blog ‘Biólogo Socialista’
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*Prof. Luiz Fernando Leal Padulla
*Biólogo*
Doutor em Etologia
Mestre em Ciências
Especialista em Bioecologia e Conservação

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