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sexta-feira, 29 março, 2024

Chegou a hora do pragmatismo se impondo sobre as ideologias

 por Luis Nassif

Mas o ponto central do trabalho é a proposta de políticas orientadas por problemas.

A Covid-19 está obrigando a uma revisão ampla do modelo de capitalismo pós anos 70 – o que surgiu com o desatrelamento entre dólar e ouro no governo Nixon e, depois, com o liberalismo de Ronald Reagan e Margareth Thatcher.

O primeiro movimento começou com a crise de 2008, deflagrando um amplo debate sobre os novos rumos do capitalismo, obrigando a uma troca das ideologias por pragmatismo, sem part-pris e sem a monocultura do crescimento do PIB.

Um bom trabalho do Democracy Journal, se propõe a definir o pragmatismo radical, como caminho para as políticas pós-Covid.

Lembra que nos Estados Unidos, Reino Unido e grande parte da Europa enfrentaram turbulências econômicas e políticas na última década, deflagrando ondas de críticas ao status quo do capitalismo. Acabou a fé cega no poder do mercado para organizado a atividade econômica.

Há consenso sobre os erros da hiperliberalização, mas não há consenso sobre os novos caminhos, sobre como organizar o poder da tecnologia, ciência, negócios, filantropia e todos os outras forças da sociedade – além dos mercados e governos.

Os efeitos do Covid ajudarão a produzir consensos. Especialmente a maneira como os Estados nacionais se organizaram para enfrentar as crises gêmeas da saúde e da economia, através de práticas heterodoxas: quarentenas, proibição de viagens, garantia de renda, paralisação da dívida, interrupção de despejos e outras medidas radicais.

A constatação é que o melhor formulador de inovações é nosso velho conhecido, o Senhor Crise.

No período pós-Thatcher, a esquerda endossava políticas de governo para suavizar exageros de mercado. Mas o consenso amplo era o da competição de mercado. Qualquer desvio da concorrência de mercado, precisava ser explicitamente justificado.

Segundo o trabalho, houve ganhos materiais expressivos no período. Nos países em desenvolvimento, a pobreza global despencou em cerca de 65% da população mundial para um dígito em 2015. O trabalho não detalha os ganhos. Se detalhasse veria que grande parte dessa redução se deveu a um país que não seguida as regras do livre mercado, a China, e outro que adotou políticas inéditas de inclusão, o Brasil.

A crise de 2008 expôs de maneira mais drástica os riscos da regulamentação leve. Nas economias avançadas, o crescimento da produtividade caiu para menos de 1% ao ano. Os salários médios, ajustados pela inflação, voltaram ao níveis de 50 anos atrás, enquanto a renda do 1% mais rico disparou.

E, lugar do ganha-a-ganha do desenvolvimento, houve aprofundamento das desigualdades financeiras, geográficas e geracionais. Os choques gêmeos – eleição de Donald Trump e Brexit – comprovam a ansiedade por mudanças. Recentemente, o New Research Center estimou que 76% dos americanas acreditavam que o governo é dirigido apenas por grandes interesses pessoais e corporativos.

O artigo lista algumas sugestões para ajustar o modelo econômico neoclássico: redução o capitalismo “rentista”; repressão aos paraísos fiscais; treinamento de trabalhadores e focos nas habilidades do século 21; impostos sobre carbono.

Tais ajustes, no entanto, não serão suficientes para enfrentar problemas sistêmicos, como mudanças climáticas e coesão social. Para abordar essas questões, haveria a necessidade de políticas expressas para organizar o poder da tecnologia, da ciência, dos negócios, da filantropia e de outras forças da sociedade.

A idéia radical é rejeitar modelos representacionais da realidade (a ideia de mercados perfeitamente competitivos e consumidores racionais) em favor da compreensão do mundo por meio de experiências vividas.

Resumindo: definir problemas concretos e, a partir daí, desenhar políticas e mudanças que apresentem soluções. As soluções de mercado tendem a favorecer pequenas adaptações na margem. O Covid trouxe a idéia de uma mentalidade mais radical, do tipo “o que for preciso” para a formulação de políticas que mitiguem o risco de desastres.

É uma mudança radical no hiper-ideologismo das políticas econômicas contemporâneas. É o primado do empirismo sobre a ideologia, e o agnosticismo cobre as lutas ideológicas entre estados e mercados. Haverá a necessidade de uma visão de sistemas, algo muito além dos estados e mercados. O trabalho apresenta os dois primeiros desafios: mitigar as consequências da crise climática e reviver a bonança econômica da classe média.

Em relação ao meio ambiente, o trabalho propõe metas rígidas. Depois, a identificação de caminhos para a descarbonização profunda. Mais: investimento público em energia limpa, integração entre academia e setor privado, eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis; limitação ao uso de veículos individuais etc.

Em relação à recuperação da prosperidade da classe média. Desde meados da década de 70, nos Estados Unidos e em muitos outros países, houve a estagnação e a desvinculação da classe média do crescimento econômico.

Nos EUA a participação do trabalho na renda nacional caiu cerca de 15%. Nos últimos anos, diversos trabalhos desvincularam que não existe um padrão automátio de redução do emprego com o aumento do salário mínimo. A perda de poder dos sindicatos teve influencia na queda de renda. Daí a importância do fortalecimento dos sindicatos e da participação de trabalhadores nos conselhos das empresas.

Mas o ponto central do trabalho é a proposta de políticas orientadas por problemas.

Recentemente, Nova Zelândia adotou um orçamento de bem-estar.

Definiu cinco objetivos sociais fundamentais: sobre as emissões de carbono; gestão da digitalização da economia; inclusão de grupos indígenas; redução da pobreza infantil; e apoiar a saúde mental. O governo nacional então pede que todos os novos gastos públicos atendam a pelo menos uma dessas prioridades. Essa estrutura abrangente não prescreve soluções específicas de mercado ou baseadas no estado para esses problemas, mas concentra a atenção e os esforços naquilo que foi identificado como os desafios mais importantes que a sociedade enfrenta.

De certo modo, o que o Brasil conseguiu com a Politica de Desenvolvimento Produtivo, na área da saúde.

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