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sábado, 20 abril, 2024

Discurso de elogio ao socialismo com características chinesas: Xi rejeita os modelos políticos ocidentais 

 Adam Garrie, The Duran
“Todo o Partido Comunista Chinês deve lembrar que o que estamos construindo é socialismo com características chinesas, não algum novo ‘-ismo'”.
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O presidente chinês Xi Jinping discursou numa grande reunião do Partido Comunista da China, preparatória para o próximo 19º Congresso Nacional do PCC.

Em discurso de vasto alcance, o presidente Xi disse que a China deve reafirmar e acentuar tanto suas características chinesas como as tradições socialistas do PCC. Segundo a mídia chinesa, Xi insistiu em que “o socialismo com características chinesas tem sido o tema de todas as teorias e práticas do Partido, desde a reforma e abertura de 1978”.

1978 foi o início de reformas internas marcantes e decisivas na China introduzidas por Deng Xiaoping, que foi Líder Exemplar da China entre os anos 1978 e 1989. Durante esse tempo, a China abraçou um programa que Deng chamou “socialismo de mercado”.

Nas palavras de Deng,

“Não existe contradição básica entre o socialismo e a economia de mercado”.
Essa noção subjaz às reformas pragmáticas que levaram ao boom econômico chinês, o qual por sua vez levou o país a se tornar uma superpotência econômica global, já em condições de deslocar completamente os EUA também nas áreas em que ainda não o fez.

Essa é realidade que até a diretora do FMI Christine Lagarde já reconheceu e enunciou recentemente, ao confirmar que é provável que o FMI mude sua sede principal, dos EUA para a China, na linha de que o Fundo deve ser localizado em território da maior economia do mundo.

O milagre econômico chinês foi realizado sem qualquer modificação nem em seu sistema político nem em sua política exterior independente.

Já escrevi aqui em The Duran sobre o crescimento positivo da China, que se pode explicar a partir da liderança e dos princípios de Deng Xiaoping:

“Deng é o exemplo perfeito de líder que faz reformas moderadas, mas com empenho e zelo revolucionários. Muito frequentemente se veem em outros países governos que fazem exatamente o contrário disso. Na União Soviética, Gorbachev e seu braço direito Alexander Yakovlev introduziram reformas antipatrióticas que levaram à desintegração ilegal da União Soviética e ao caos na economia que se viu nos anos 1990s, quando um capitalismo de oligarcas piratas destruiu um dos estados mais prósperos da história. A URSS poderia ter sido salva facilmente se aparecesse por lá um Deng russo, em vez de a Rússia acabar-se nas mãos de Boris Yeltsin, traidor e beberrão seduzido pelos sistemas econômicos incompatíveis do ‘ocidente’.

Deng Xiaoping soube evitar os piores excessos dos dogmas ideológicos de Mikhail Gorbachev, Yakovlev e adiante também de Yeltsin, porque se concentrou não em demandas de estrangeiros ou em ditas necessidades do povo russo erradamente avaliadas e consideradas, mas porque, diferente disso, se concentrou nas necessidades práticas da economia e no poder da força de trabalho chinesa, até então jamais posta a serviço dos próprios chineses.

Com isso, inaugurou uma nova era de prosperidade e de felicidade como a nação jamais conhecera, e que o primeiro-ministro chinês [1949-1958] Zhou Enlai defendera por algum tempo depois da morte de Mao.

Ao combinar reformas de mercado num plano local e regional, com supervisão estatal num plano nacional, a China tornou-se um país que gera capital internamente e também via compromissos e negócios internacionais. O país conseguiu isso sem jamais perder de vista a imperiosa necessidade de regular aquele capital e submetê-lo a gestão que jamais perca de vista a soberania da China.

Deng está hoje consagrado, pelos sucessos contemporâneos da China. Muito diferente disso, o ‘ocidente’ ‘globalista’ fracassou miseravelmente. A criatividade econômica do trabalhador foi esmagada, os empregos desapareceram, salários e padrão de vida foram destruídos –, ao mesmo tempo em só as grandes empresas transnacionais enriqueciam, e desmesuradamente. Hoje, até entre os 1% mais ricos, muitos já percebem que até a ‘utilidade’ deles vai sendo aos poucos substituída por inteligência artificial”.

Desde as reformas de Deng, o projeto mais ambicioso da China está em andamento hoje, na era Xi. Em 2013, menos de um ano depois de assumir o governo, o país de Xi anunciou sua iniciativa “Um Cinturão, Uma Estrada”, para criar uma ultramoderna infraestrutura global de comércio, por vias terrestres e marítimas, que ajudarão a harmonizar o comércio mundial a partir da cooperação multilateral entre estados plenamente soberanos. A iniciativa está ainda nos estágios iniciais, mas a alta probabilidade de que o modelo chinês de sucesso chegue a outras áreas de Ásia, Eurásia, África e Europa já preocupou os EUA – que não são sócios da empreitada multilateral.

Tudo isso ajuda a explicar o que Xi tinha em mente quando disse  às autoridades do Partido Comunista Chinês que

“Todo o Partido deve lembrar que o que estamos construindo é socialismo com características chinesas, não algum novo ‘-ismo'”.
Xi aí respondeu a todos os chineses que suponham que algum modelo ocidental tenha a chave do futuro da China; também respondeu aos que, no ocidente, tentam seduzir a China e induzi-la a abandonar seu modelo de governança soberana – como já fizeram com a frágil liderança russa de Gorbachev e seu braço direito Alexander Yakovlev.

A China aprendeu muito não só da própria experiência, mas também do que aconteceu na Rússia e nos EUA. No caso da Rússia, o experimento fracassado de aplicar lá um modelo socioeconômico norte-americano nos anos 1990s devastou o país e o envergonhou, por causa de uma crise artificialmente criada de refugiados. Só depois, sob a liderança do presidente Vladimir Putin, a Rússia conseguiu afinal reverter a parte pior das ‘reformas’ implantadas nos anos 1990s. É lição que a China observou muito cuidadosamente. Assim o país evitou os perigos mortais em que a Rússia foi colhida nos anos tenebrosos de Yeltsin.

Mais recentemente, a China aprendeu também dos EUA, cujo modelo político resultou numa Washington mortalmente dividida e fragmentada, cujos escândalos se sucedem expostos mundialmente. O chamado escândalo “russiagate“, sem qualquer prova e absolutamente sem substância é apenas mais um dentre os incontáveis escândalos em ‘andamento’ nos EUA.

Com o país já mobilizado para ultrapassar os EUA como a mais poderosa economia do mundo, é visível que a China conseguiu o equilíbrio objetivamente correto.

Nesse sentido, o discurso de Xi foi sinal de advertência, para que não haja desvios e todos mantenham o rumo. Mas, mais que isso, Xi também está conclamando o Partido Comunista Chinês a defender com mais firmeza, em tom menos humilde ou apologético, o extraordinário modelo chinês – que hoje todo mundo inveja.*****

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