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sexta-feira, 19 abril, 2024

É Hora para o Brasil acordar

Monumento para os vítimas de tortura, Recife

Nenhum povo é estúpido. Todos merecem o governo que elegem. No próximo domingo, o povo brasileiro tem uma escolha entre sensacionalismo e bom senso.

No próximo domingo, o povo brasileiro não vai escolher entre os programas do governo do líder do PSL (Partido Social Liberal, à direita) e do PT (Partido dos Trabalhadores, centro-esquerda). Antes, eles vão escolher entre o candidato sensacionalista, Jair Bolsonaro, um ex-capitão do exército que foi condenado a um termo no prisão no passado, rotulado por alguns “O Mito”, e Fernando Haddad, um acadêmico com diploma em direito, mestrado em economia e doutorado em filosofia.

Em qualquer país normal, Bolsonaro não seria candidato

Em qualquer país normal e civilizado, Bolsonaro não chegaria nem perto da Presidência, exceto talvez nos Estados Unidos da América, basicamente porque, regra geral, as pessoas não são estúpidas e levam a política a sério. Isso, porque Bolsonaro já declarou que ele não iria estuprar uma senhora (dirigida a uma política) porque ela não merecia, porque ele fez comentários racistas, porque ele fez comentários homofóbicos declarando se um dos seus filhos fosse homosexual, ele preferiria que ele morresse em um acidente de carro.

Porque ele chegou em Minas Gerais e declarou que “também era paulista” (portanto, nem sabia onde estava). Porque ele foi implicado e então absolvido em um plano para plantar bombas em quartéis militares no Rio de Janeiro (terrorismo), apesar de ser considerado culpado por decisão unânime do Conselho de Justificação Militar.

Porque ele declarou seu apoio a uma ditadura militar em 1993 (esquecendo os crimes horrendos daquele regime incluindo tortura e estupro entre 1964 e 1975), porque em 1999 afirmou antes da eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso que ele não mudaria nada com o voto, só por uma guerra civil. “Só vai mudar, infelizmente, no dia em que partir para uma guerra civil e fazendo o trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil, começando pelo FHC [sigla pela qual Fernando Henrique Cardoso é conhecido], não deixar ele p’ra fora, não. Matando! Se vão morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente”.

Uma especie de político

E assim por diante, só para dar uma ideia, não da pessoa, mas da especie de político que lidera as pesquisas de opinião brasileiras, embora agora por pouco, e esse é a especie de político que lidera um tipo de equipe que deseja governar o Brasil para os próximos quatro anos. E estamos falando de quê exatamente?

É a especie de político cujo controle da língua portuguesa é, na melhor das hipóteses, duvidoso, com a gramática por todo o lado, é a especie de político que aparece quando as pessoas estão cansadas do governo do mesmo partido (PT), quando eles estão fartos dos escândalos de corrupção do governo e quando o candidato opositor é cinzento, pertencente ao mesmo PT, em um país no qual a violência diária nas ruas é notícia de primeira página.

Crime e drogas

O Brasil tem programas inteiros transmitidos em canais de TV dedicados ao crime. “Crime terrível, senhora morta”. Há desfile de um jovem (antes de qualquer processo judicial), no ecran, uma pergunta disparada por um repórter: “Por que você matou sua tia?” “Eu a matei, mas não quis. Apontei arma para ela, e disparou sozinha”.

É verdade que a violência nas ruas no Brasil, principalmente na periferia das cidades e entre os cartéis de drogas, é abundante, e entre os que fazem fortuna com drogas e com a miséria adas famílias alheias, o valor da vida humana é insignificante.

É verdade que, no Brasil, é difícil para as Políticas Federais serem eficazes porque quaisquer fundos são desviados por políticos corruptos em todos os níveis de governança. Por muitos partidos políticos.

Para um povo não instruído, ignorante e crédulo, que acredita em soluções sensacionalistas e fáceis para problemas sérios e complexos, alguém como Jair “O Mito” Bolsonaro é um Messias (curiosamente, seu segundo nome). Sua solução é afrouxar o controle de armas e metralhar as favelas e aprisionar todos os políticos corruptos. Conclusão: o caos social ocorreria com a taxa de homicídios subindo em proporções de guerra civil (se já não chegou a esse patamar) e, no que diz respeito à corrupção, é uma suposição infantil afirmar que toda corrupção é o feudo do PT. Não é – políticos de multos partidos estão envolvidos.

Bolsonaro esteve na prisão. Haddad não. Bolsonaro é hoje acusado de fraude, Haddad não. Bolsonaro é racista. Haddad não. Bolsonaro é sexista. Haddad não. Bolsonaro é homofóbico. Haddad não. Bolsonaro não sabe falar sua própria língua. Haddad sim. Bolsonaro não está preparado para ser presidente do Brasil, Haddad sim.

Haddad pode ser cinzento, ele pode parecer ter o carisma de uma lesma esmagada sob uma tonelada de sal marinho, mas ele é executivo, não anda por aí a dizer disparates, é educado, é um acadêmico, ele sabe representar o Brasil no exterior, porque ele será o embaixador de seu país (imagine Bolsonaro em um jantar de estado sentado ao lado da rainha Isabel II … “Tu não é pobre, é?  Se tu é pobre, você não está aqui, é? Com toda estas pessoa por aí, porra”). E Haddad tem uma equipe que sabe o que está fazendo.

A solução

A solução no Brasil não é eleger um sensacionalista que é recebido por multidões pedindo-lhe para colocar uma boina militar ou usar óculos de sol para que eles possam tirar uma selfie com ele. “Vá lá, parceiro, coloque essa boina! Nossa! Coloque estes óculos de sol. Olhem o pai ao lado do Mito, filhos!” Mais vale pintá-lo como um palhaço e perguntar qual é a sua política econômica, embora provavelmente ele nem saiba o que significa economia. Como ele supostamente admitiu.

A solução é atacar a corrupção em todos os níveis de governança e não espalhar a mentira de que a corrupção está nos pés de só um partido. A solução é levar a sério o tráfico de drogas, começando pelo topo e tirando aqueles que estão controlando o tráfico, que inclui a polícia e os militares. Este não é um programa facil e sensacionalista de quatro anos, é um programa de pelo menos 15 (dois ciclos políticos, ou quase 4 mandatos presidenciais) só para começar a fazer a diferença.

E quanto aos problemas sociais, como vimos em outros lugares da América Latina, você precisa de investimento social, e não de políticas idiotas cortando salários e estrangulando a economia tirando dinheiro dela. Lula e seu PT tiraram dezenas de milhões de brasileiros da pobreza e apesar dos tsunamis econômicos internacionais, a economia e a sociedade do Brasil estavam estáveis.

A solução é reforçar a eficácia da justiça – como é possível que um dos candidatos – Bolsonaro – é acusado de um crime de fraude eleitoral e a deliberação terá lugar só depois das eleições?

Sérias tensões económicas e sociais

Com Bolsonaro, o Brasil enfrenta sérias tensões sociais, miséria, uma explosão de violência e uma total falta de controle porque a eleição de Bolsonaro é colocar um touro em uma loja de porcelana.

Todos se divertiram, todos tiveram sua festa gritando “O Mito” e ridicularizando o Partido dos Trabalhadores como sendo incompetente e corrupto. Agora é hora de ficar sério, ser sensato e levar a política a sério. O Partido dos Trabalhadores fez mais para o Brasil e para o/a brasileiro/a do que qualquer outro partido na história da sua democracia, a ditadura militar privou o Brasil de sua chance de alcançar o resto do mundo. Bolsonaro levará o Brasil para trás, não para frente, basicamente por uma razão simples: porque ele não tem as qualificações para representar o Brasil. Em qualquer outro país, Bolsonaro não chegaria nem perto da Presidência. Tempo para o bom senso e a maturidade política vencer o sensacionalismo. O Brasil não é um circo e certamente não precisa de um palhaço.

Haddad, vencedor de nada menos que sete prémios de destaque pela gestão da prefeitura de São Paulo, incluindo melhor prefeito da América Latina, é o candidato do investimento social e não terrorismo social, é o candidato de sérias medidas para continuar os programas que melhoraram a sociedade brasileira e deram ao Brasil um lugar no pódio internacional. É um executivo.

https://en.wikipedia.org/wiki/Military_dictatorship_in_Brazil#/media/File:Monumento_Tortura_Nunca_Mais_-_Recife.jpg

Timothy Bancroft-Hinchey

Fundador, Diretor e Chefe de Redação Versão portuguesa da Pravda.Ru(desde 2002)

Tem contribuido para os comunicados oficiais da República de Cuba e da Federação Russa.

Jornalista desde 1976, tem trabalhado na área da imprensa diária, semanal, mensal e anual, em jornais e revistas e grupos de mídia como correspondente, editor e dono. É Professor, tradutor oficial, consultor e coach.

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