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quinta-feira, 28 março, 2024

Eleições na Bolívia: Do golpe para o conformismo?

Por Odalys Troya

Havana, (Prensa Latina) A Bolívia vive hoje uma profunda crise política no meio duma aparente paz após o golpe de Estado ao presidente legítimo e constitucional Evo Morales.

 

Nesse palco, ao qual parecem se conformar alguns setores no país, começam a se postular os vogais para conformar o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) no intuito de novas eleições embora no fim de semana nenhum aspirante formalizou sua solicitação, segundo afirma a secretaria técnica da Comissão Mista de Constituição da Assembleia Legislativa Plurinacional, Zorka Zeballos.

Em simultâneo, saem à luz os nomes de possíveis presidenciáveis que terão nas suas mãos o destino desse país sul-americano, o único na região que faz parte da Amazônia, os Andes e a Bacia do Rio da Prata.

Pelos seguidores de Evo Morales e representando ao Movimento para o Socialismo (MAS), o vice-presidente da coordenadora das Seis Federações de cocaleros do Trópico de Cochabamba, Andrónico Rodríguez, se perfila como um possível candidato à presidência de Bolívia.

Em coletiva para a agencia russa Sputnik, Rodríguez disse que poderia se postular caso tiver o apoio de Evo e que, embora o vejam como um possível candidato nada está definido porque ainda se estão coordenando reuniões departamentais.

Enquanto isso, pelos setores mais reacionários da direita boliviana, um dos principais cabecilhas do golpismo, Luis Fernando Camacho, renunciou em 29 de nove à presidência do Comitê Cívico pro Santa Cruz para habilitar sua postulação à Presidência.

Nos últimos dias, Camacho conseguiu assinar acordos com agrupações políticas dentre elas o Partido Democrata Cristiano, Movimento Nacionalista Revolucionário e outros.

Novas eleições sem fraude demonstrado.

As eleições gerais, cuja data ainda não se definiu, serão o resultado da institucionalização dum golpe de Estado contra Evo Morales, ganhador das eleições de 20 de outubro passado.

Face esse sufrágio e depois, os cívicos e agrupações políticas reforçaram a ideia de uma fraude, contudo até hoje a Organização de Estados Americanos (OEA) que validou os boatos, não tem verificado tamanha denúncia.

Um relatório do Center for Economic and Policy Research (CEPR) intitulado Que aconteceu na recontagem de votos das eleições da Bolívia de 2019? desmente a versão da OEA.

Assinala que os resultados da contagem rápida com 83,85 por cento de votos contabilizados ‘são consistentes com uma projeção do resultado final que assinala como imediato ganhador a (Evo) Morales com uma vitória de mais de 10 pontos percentuais’.

Acrescenta que nem a missão da OEA nem nenhum partido político de oposição têm demonstrado que houve irregularidades sistemáticas nas eleições presidenciais de 20 de outubro de 2019.

Evo renunciou em 10 de novembro, pressionado por altos mandos militares, no meio duma espécie de greve da polícia e de protestos violentos convocadas pelos cívicos.

Em menos de 72 horas, Jeanine Añez se autoproclamou presidenta transitória, e nos dias sucessivos começou a demonstrar toda a engrenagem dum governo que durante 13 anos mudou para bem da maioria dos bolivianos, a economia dessa nação.

Antes da chegada de Evo Morales ao poder, o governo da Bolívia recavava 731 milhões de dólares em ingressos anuais de hidrocarbonetos.

Após a renegociação de contratos e nacionalização de importantes recursos naturais, se incrementou sete vezes, até atingir 4,95 mil milhões.

A Bolívia foi capaz, sob a chefia de Evo, de conseguir uma independência econômica que nunca antes tinha gozado.

Um dos seus sucessos mais importantes é a redução da pobreza que se passou de 60 por cento a 35 por cento para 2018.

Do mesmo jeito, pela primeira vez os povos originários que conformam esse país foram reconhecidos e em 2009 a Constituição fez oficial status da Bolívia como estado laico e plurinacional.

Mas, tamanho avanço em favor do povo num país tão rico não era agradável para as forças internas nem externas, algo que esclareceu o sítio Behind Back Doors, e denunciaram também personalidades como Noam Chomsky, Jeremy Corbyn, Bernie Sanders e Roger Waters.

No mencionado sítio se revelaram áudios que explicam pormenores da planificação desde Estados Unidos e que demonstram também o apoio do governo de Jair Bolsonaro aos golpistas.

Para o filósofo Enrique Dussel a ideologia evangelista é a ponta de lança da política norte?americana, que está prestes a ‘recuperar’ à América Latina mediante métodos leves, mas também a través de golpes de Estado.

Pelo que Fernando Camacho com o seu fundamentalismo religioso e a sua ‘bíblia evangélica’, é apenas um elemento da grande jogada continental, e também o são Jeanine Añez, as forças armadas e a polícia que a respaldam.

As novas eleições, no entanto, não esclarecem o caminho político da Bolívia marcado pela persecução política aos membros e simpatizantes do MAS e a imposição de figuras pelo governo de facto em vagas decisórias no país.

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