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sexta-feira, 29 março, 2024

EM DEFESA DO BRASIL


“Malditos sejam os golpistas! Não passarão! Viva o Brasil!
Chega de lágrimas, camaradas! É hora de usar a força.”
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Chega de lágrimas! A América Latina chora sem parar, sem parar, há anos, décadas, séculos. O povo da América Latina foi roubado de tudo desde os dias de Colombo, desde Potosi. Dezenas de milhões, talvez centenas de milhões foram massacrados aqui, nos últimos 20 séculos: primeiro, pelos ‘conquistadores’; depois por seus descendentes e servos; e, afinal, pelo Império da Mentira e pelas traiçoeiras “elites” locais.

Chega de lágrimas, camaradas! É hora de usar a força.

Em todos os casos em que o povo levantou-se na América Latina, sempre que os reais heróis latino-americanos libertaram a própria terra, por argumentos ou pela força, quase imediatamente depois começou o banho de sangue, chegado do outro lado do mar, ou vindo do norte. Tanques rolaram pelas avenidas e praças, aviões e helicópteros de combate semearam bombas e tiros contra palácios presidenciais, e pelo interior do país. Gente foi caçada como bicho, arrastada para estádios-prisões e fábricas-prisões, para buracos cavados no chão e ali homens e mulheres e crianças foram violados, torturados e massacrados.

Essa é a democracia deles! Obrigado, mas, basta dela!

Por que todos esses horrores aconteceram? Porque sempre há consenso claro entre os governantes em Washington, em quase todas as capitais europeias e nas classes dominantes por toda a América Latina: os latinosbrotam por aqui para servir ao Ocidente, sempre governados do Norte para baixo. Se algum país latino reselve agir “irresponsavelmente” (parafraseando Henry Kissinger), logo tinha de ser relembrado do seu devido lugar: cabia-lhe por direito deixar-se espatifar em cacos, afogado no próprio sangue e completa, totalmente reduzido a humilhação extrema.

Foi o tratamento aplicado incontáveis vezes, virtualmente por todo o continente – da República Dominicana ao Chile, do Brasil à Nicaragua.
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Mas nos últimos vinte anos as coisas mudaram.

A Venezuela levantou-se. Rugiu, fechou os punhos e venceu, o que disparou arrepios de esperança por todos os cantos do mundo. É possível! A Venezuela vez! Pode ser feito, carajo! O povo boliviano gritou em voz clara, indignada e bela: essa terra é nossa, essas são nossas cores indígenas; é nosso ar; a água é nossa! E lutaram. Morreram alguns, mas a nação venceu. O Equador ergueu-se dos joelhos, mudou a vida de milhões de seres humanos que, da vida, só conheciam a opressão. A Argentina recusou-se a pagar dívida injusta, e, em vez de submeter-se, tentou construir uma sociedade justa e socialista. O Chile, passo a passo, vinha superando o legado macabro dos anos Pinochet – e pôs afinal na prisão os responsáveis pelo estupro do país.

Por várias diferentes vias (do modo calmo e lento à moda Uruguai, à via da revolução militar que a Venezuela escolheu), um continente que já fora rachado pela mais escandalosa desigualdade social de todo o planeta gradualmente ressuscitou. Que belo mosaico! De repente, romperam-se as algemas, que foram jogadas nas máquinas de fundição, e convertidas em arados e fundações sólidas para novos hospitais e escolas.
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E como esquecer do Brasil?

Dilma Rousseff – digam o que disserem seus inimigos, diga o que disser o Império na velha eterna lenga-lenga tóxica, cínica – e o Partido dos Trabalhadores, PT, mudaram absolutamente tudo!

Há bem poucos meses, ano passado (2015), viajei pela vasta, bela terra do Brasil: de Brasília, capital, às profundezas da floresta tropical, perto de Manaus. Da antiga cidade portuária de Belém, a Recife, Fortaleza e Salvador na Bahia; passei dias ouvindo o povo de São Paulo e, depois, do interior do estado.

Já conhecia o Brasil de 20, 30 anos atrás. Mas o que vi em 2015 era absolutamente outro país!

Sentei com professores das chamadas escolas-barco [escolas flutuantes] na Amazônia. Falaram dos progressos e da esperança que chegara até às comunidades indígenas mais remotas. Falei com pescadores, mães chefes de família, até com contrabandistas. Conversei com as crianças. A vida mudou mesmo desde que Lula começou a governar? Mudou. Claro que mudou. Quem duvida? Quem poderia negar?!

Estive em favelas de Salvador, Bahia. Como na Venezuela, em todos os bairros pobres viam-se os efeitos dos mais variados programas construídos para eliminar a miséria e a desigualdade, muito otimismo, militância ativa.

A infraestrutura melhorava à velocidade da luz, do transporte público aos aeroportos. Em muitas cidades, arte da melhor qualidade oferecida gratuitamente ao povo. Em Manaus, assisti a uma brilhante montagem de balé contemporâneo, que mostrava a luta das pessoas para salvar o meio ambiente da própria terra. Até aquele espantoso prédio da Ópera de Manaus, onde Caruso se apresentava nos idos tempos do boom da borracha, apresentava espetáculos gratuitos para a população. E em Belém também assisti arte de graça, dessa vez uma ópera de Verdi, num teatro municipal fabulosamente restaurado.

Antes cidade desesperançada e perigosa, Belém foi convertida em cidade de amplos espaços públicos, praças, bulevares e incontáveis apresentações de arte e atividades de promoção da cultura.

Em Salvador, Bahia, perto do famoso elevador, encontrei outro centro cultural, que naquele momento estava ocupado por manifestantes que exigiam mais atenção pública à saúde no Brasil.

Perguntei: “Mas a saúde pública gratuita não melhorou no Brasil nos anos recentes?”

“Melhorou” – disseram-me os organizadores da ação. – “Mas queremos que melhore muito mais!”

O local gigantesco onde os manifestantes reuniam-se é espaço absolutamente público. Ninguém precisava pagar para usar o espaço. Praticamente, como se o governo Dilma realmente pagasse para que manifestantes apresentassem seu protesto e críticas das próprias políticas do estado brasileiro. “Vejam, essa é a democracia que queremos”.
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Quanto mais as coisas melhoraram, mais violentos os surtos das ‘elites’ da ‘oposição’. Centenas de ONGs, algumas patrocinadas ‘de fora’, puseram-se a coordenar campanhas de desinformação e agitação, com o objetivo de desacreditar o governo e desestabilizar o país.

Antes, eu já vira os mesmos ‘eventos’ no Equador, Venezuela, Argentina e noutros pontos. Praticamente todos os veículos das mídias de massa já estavam continuam em mãos de conglomerados de extrema direita. O dinheiro sempre chovia desavergonhadamente de todos os lados, comprando votos. Resultado, uma ninhada maldita de políticos de direita, corruptos, continua sempre a inundar literalmente o Congresso.

Num dado momento, o imenso paradoxo tornou-se insustentável; alguma coisa teria de acontecer:

– Por um lado (e apesar do declínio econômico recente), o Brasil crescia e estava melhorando significativamente as condições de vida do povo mais pobre.

Graças a Dilma e ao Partido dos Trabalhadores, dezenas de milhões vivem hoje melhor q antes, a expectativa de vida aumentou e o estado oferece educação de melhor qualidade. Sempre que fiz perguntas claras e diretas às pessoas na rua, as respostas confirmaram precisamente esses dados oficiais.

– Por outro lado, mais e mais vozes de cidadãos brasileiros passaram a ‘declarar’ que “Fora Dilma”.

Não há lógica alguma que conecte esses dois movimento. Exceto que as incansáveis campanhas contra, com ou sem motivo real; a manipulação maquiavélica e a desavergonhada propaganda anti-esquerda, estavam afinal mexendo, sim, com a cabeça dos brasileiros!

Os brasileiros foram induzidos a mergulhar num ‘pensamento’ bizarro, de fato, irracional: “O Brasil está melhor que nunca, mas ninguém ‘gosta’ das forças políticas que estão melhorando a vida da gente.”

Um dia, no novo e luzente metro de São Paulo, com meu bom amigo cubano, exclamei: “Mas… Esse metrô é melhor que qualquer sistema de transporte público em Londres ou Paris…”

“Você acha?!” – ele riu, sarcástico. – “Pois fique sabendo que o pessoal aqui acha q tudo é totalmente uma merda. Só ouvem, leem, repetem, propaganda contra. Qualquer coisa que o governo faça, é imediatamente apedrejado e criticado como o mal total.”

Não se pode esquecer que tudo isso vem de fora. A propaganda é manufaturada longe do Brasil, e só calibrada em São Paulo, no Rio de Janeiro, onde for, para consumo local. Tudo aí é extremamente profissional, material potente, altamente destrutivo, e circula livremente em todos os países da América Latina. O objetivo é claro: pôr fim aos processos revolucionários em todo o continente. Proteger e preservar o status quo.
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Agora, o Congresso acolheu o pedido de impeachment da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff.

Se a coisa for deixada como está, para avançar sem resistência, pode ser o começo do fim da cautelosa revolução brasileira, e do governo democrático do povo (os políticos corruptos que tentam hoje derrubar o governo Dilma absolutamente nada representam além das próprias ambições financeiras e autistas).

Mesmo na mídia-empresa ocidental houve alguns que não conseguiram manter o simulacro. O britânico Daily Mail escreveu dia 18/4/2016, logo depois da votação na Câmara de Deputados:
“A decisão foi mais um golpe numa líder política atacada ininterruptamente há muito tempo, que inúmeras vezes já disse que a ação contra ela é “golpe”.

A presidenta Rousseff não tem contra ela nenhuma acusação de corrupção, diferente nisso de muitos dos deputados que decidiram o destino dela no domingo passado.

Congresso em Foco, prestigioso grupo jornalístico de jornalismo de investigação ativo em Brasília, disse que mais de 300 dos deputados que votaram – bem mais que a metade da Câmara – enfrentam acusações de corrupção e estão sendo investigados.

Ao votarem, alguns deputados disseram que o próximo a ser alvo de impeachment deve ser o homem que comandava a sessão, o presidente da Câmara Eduardo Cunha. É acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, no escândalo que envolve a Petrobrás, e também é acusado de manter contas secretas em bancos suíços jamais declaradas ao fisco no Brasil.

‘Deus tenha misericórdia desse país’ – disse Cunha, antes de declarar seu voto a favor de Rousseff ser impedida.”


O que, afinal de contas, Dilma realmente fez, além de defender os interesses dos brasileiros mais pobres (defesa que, em si mesma, já é crime imperdoável aos olhos das ‘elites’ e do Império)?

As acusações ‘oficiais’ são: a presidenta teria usado ‘truques contábeis’ na administração do orçamento federal, para manter os gastos. Nada foi roubado. Nunca houve qualquer troca de favores, por dinheiro. Ninguém acusa a presidenta de corrupção.

Ainda que os ‘truques contábeis’ tivessem acontecido, não seria crime. Há quem diga que todos os presidentes do Brasil fizeram o mesmo, num ou noutro momento. Quase todos os políticos no ocidente fazem a mesma coisa, repetidas vezes.

Pouco antes de esse artigo estar concluído, o internacional The Daily Telegraph publicou: “Orçamento da OTAN só ‘fechou’ por manobras de ‘contabilidade criativa’. Para cumprir os gastos autorizados para a Defesa, ministros tiveram de “modificar” algumas rotinas contábeis, disse um membro do Parlamento”. Pois até agora não apareceu ninguém interessado em cassar direitos da OTAN, por causa disso!

Nem o internacional New York Times conseguiu manter-se calado. Dia 21/4/2016, o jornal fustigou os deputados brasileiros, em coluna assinada por Celso Rocha de Barros

[ATENÇÃO: De fato, a coluna foi escrita por esse colunista da Folha de S.Paulo, com dois claros objetivos discursivos: (1) ‘informar’ os EUA de q “não é golpe” –, o meme que toda a mídia-empresa brasileira regida por Washington está repetindo lá e aqui; e (2) que o golpe (que não é golpe) seria ‘movimento’ necessário, para que [os tucanos] possam pôr “ordem na casa”. Mas essas talvez sejam nuanças difíceis de perceber, para comentarista distante como nosso bom Andre Vltchek (NTs)].

Eis o que publicou o NYT, em coluna assinada por colunista da FSP:


“Na interminável sessão televisionada no domingo, membros do Congresso explicaram os ‘motivos’ pelos quais votavam a favor do impeachment: Votaram por “paz em Jerusalém”, “pelos caminhneiros”, “pela Maçonaria do Brasil” e “contra o comunismo que ameaça esse país”. Poucos membros do Congresso consideraram, nos respectivos votos, as acusações que estão realmente sendo feitas contra a presidente: de que violou leis das finanças públicas (…). Mas a verdadeira razão pela qual a presidente está sendo impedida, é que o sistema político brasileiro está em ruínas. Afastada Dilma, haverá fumaça suficiente no ar, para que outros políticos consigam tentar pôr ordem na casa”.


Ah, sim, que Deus tenha misericórdia do Brasil, se Cunha, ou o corrupto vice-presidente Michel Temer e sua coorte passarem a mão no poder! Ou, mais precisamente, que Deus tenha misericórdia da maioria engambelada do povo brasileiro!

Quem de fato é Cunha? É cristão fundamentalista, terrorista com raízes profundas no mais sinistro passado ditatorial da América Latina. O Guardian descreveu-o, dia 21/4/2-16, como o personagem Mr. Burns, do seriado norte-americano “The Simpsons” (…)
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O povo brasileiro elegeu democraticamente a presidenta Rousseff. Elegeu-a para que ela defendesse os mais pobres e melhorasse a vida de todos.

Nesse momento, a presidenta tem de pensar só nos brasileiros que a elegeram, só neles!

O que a ‘oposição’ quer obter é muito claro. É sempre o mesmo em todos os países da região: na Venezuela, na Bolívia e no Equador. A direita já foi bem-sucedida na Argentina, onde o presidente eleito já está desmontando o estado de bem-estar.

Essa gente tem de ser detida.

Os governos do Partido dos Trabalhadores dialogou com eles ao longo de meses, de anos. E eles optaram por esse golpe.

Agora, é hora de usar a força, na defesa dos mais fracos. Por feia que pareça a violência, e até por feia que seja, não agir agora será muito mais danoso e muito mais perigoso.

Um deputado, representante da extrema-direita, do Rio de Janeiro, disse abertamente que “dedico meu voto ao coronel que torturou [a presidenta] Dilma [Rousseff] nos anos da ditadura no Brasil. Gente desse tipo não pode governar o Brasil. Não outra vez!

A nação e a vontade do povo não são sacos de pancadas. E liberdade de imprensa não significa um punhado de veículos traiçoeiros aliados a políticos corruptos e traiçoeiros, a espalhar mentiras e ódio – ao mesmo tempo em que empurram o país para a ruína.

O Brasil é grande demais. Não pode se deixar derrubar, porque toda a América Latina depende do Brasil, de um modo ou de outro.

Presidenta Dilma, ponha seus tanques na rua. Estacione-os em frente ao Congresso. Restaure a ordem e restaure a democracia.

Lembrem: Venezuela, Bolívia e Equador e o resto de mundo a tudo assistem, de olhos postos no Brasil.

São mais de 500 anos, camarada Dilma: mais de 500 anos de tormento, saque, escravidão do povo latino-americano por invasores, tanto quanto pelas ‘elites’ locais. Diga aos inimigos do Brasil, diga aos inimigos da América Latina: “Nunca mais!”

Terá de ser feito pela força, porque o tempo dos argumentos já expirou. Não se renda.

Malditos sejam os golpistas! VIVA O BRASIL!


* Andre Vltchek é filósofo, romancista, cineasta e jornalista de investigação. Cobriu guerras e conflitos em dezenas de países. Seus livros mais recentes sãoExposing Lies Of The Empire eFighting Against Western Imperialism. Discussion with Noam Chomsky: On Western Terrorism. Point of No Return é sua novela política, sucesso de crítica, dentre outros. Trabalha hoje como cinegrafista para as redes teleSUR e Press TViraniana. Depois de morar por anos na América Latina e Oceania,  Vltchek reside e trabalha no Leste da Ásia e no Oriente Médio. Pode ser encontrado em seu website ou pelo Twitter.

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