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quinta-feira, 28 março, 2024

Especialista alerta: ‘Terrorismo no agronegócio explode o país’

Fotos Públicas / Palácio Piratini / Camila Domingues

Agroterrorismo. É esta a palavra que o oficial de inteligência da Abin, Danilo Coelho, apresentou aos membros da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados ao participar de audiência pública que tratou dos riscos de atos de terrorismo no campo.

Na audiência, realizada na quarta-feira (25) o representante da Agência Brasileira de Inteligência alertou para a necessidade de o Brasil se preparar melhor para a possibilidade de eventos como atos de sabotagem e do que chamou de agroterrorismo.

Nas palavras de Danilo Coelho, o Brasil não tem lista de agentes químicos e biológicos selecionados (ou bioquímicos como alguns analistas preferem abordar estes ítens) “que deveriam ser objeto de controle e de políticas públicas internas” tal como adotam outros governos.

Para o economista Ricardo Gennari, especialista em Segurança, Inteligência, Estratégia e Contra Inteligência Empresarial, o alerta do agente da Abin faz todo sentido. Falando à Sputnik Brasil, o economista observou que o terrorismo no campo é algo cuja gravidade pode, literalmente, explodir o país:

“Esse tipo de preocupação que o agente da Abin levou à Câmara dos Deputados não é uma coisa nova. Há tempos, o Brasil vem tentando se proteger da biopirataria e agora, do chamado agroterrorismo. Em 2011, o Gabinete de Segurança Institucional [ao qual a Abin está subordinada] lançou uma Estratégia Nacional de Inteligência que incluía as questões da espionagem e da sabotagem no país. Então, esta preocupação a que se deu o nome de agroterrorismo é antiga, não só no Brasil mas como em qualquer parte do mundo porque os interesses envolvidos, de empresas e países, são muito grandes.”

Gennari também analisou a possibilidade de a segurança alimentar no Brasil ser afetada pelo agroterrorismo, levando em conta, por exemplo, o risco de contaminação das safras e a indução de doenças nas diversas espécies animais, tudo feito de forma deliberada e proposital com objetivos políticos e econômicos:

“Vamos considerar os recentes casos de febre aftosa no país que, longe de terem sido contraídos de forma natural pelo gado, teriam sido propositalmente provocados conforme se suspeita. Os fatos ocorreram em 2016 e causaram inúmeros transtornos para toda sorte de pecuaristas: pequenos, médios e grandes. Eles deixaram de vender carne para o mercado interno e sofreram demasiadamente com as barreiras impostas pelos países compradores da carne brasileira. E todos nós sabemos que o Brasil é um dos maiores exportadores de carnes do mundo senão o maior. Por aí se pode calcular o valor do prejuízo e o impacto destas ações, possivelmente de sabotagem, para a economia nacional e para o consumo interno do país.”

O governo tratou a questão com grande seriedade e, em 2017, anunciou a erradicação da febre aftosa no Brasil.Outra presença de destaque na audiência pública realizada pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados foi a da subchefe da Divisão de Desarmamento e Tecnologias Sensíveis do Ministério das Relações Exteriores, Maria Cecília Vieira. Ela destacou que o Brasil é signatário de Convenções Internacionais que proíbem a produção, a estocagem e o uso de armas químicas e biológicas, citando, especificamente, a Convenção sobre a Proibição de Armas Biológicas e Toxínicas (CPAB), ratificada pelo Brasil em 1976, e a Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas (CPAQ), referendada pelo governo brasileiro em 1999. Maria Cecília lembrou que “o Brasil condena veementemente o uso de armas químicas e de destruição em massa”.

Na avaliação de Ricardo Gennari, trata-se de questões de extrema gravidade, razão pela qual o governo deve tornar ainda mais efetiva e rigorosa a fiscalização sobre estes produtos proibidos:

“O problema existente no Brasil em relação à segurança destes agentes químicos e biológicos é não deixá-los acessíveis à população. O Brasil estabeleceu uma série de regulamentações quanto ao uso destes materiais. Mas e o seu descarte? O uso e o descarte destes agentes são suficientemente fiscalizados? Existe o rigor necessário nesta fiscalização? São questões para as quais o governo ainda não deu respostas satisfatórias e tranqüilizadoras.”

Para o economista, só há uma possibilidade de o Brasil cuidar adequadamente da segurança e da prevenção contra a prática de atos terroristas, seja no campo ou na cidade:

“Todos os órgãos do governo devem agir de forma integrada, de modo a prevenir ações que afetem a segurança do país, da população e da economia nacional no que diz respeito à proteção contra atos de terrorismo no campo. As consequências destes atos são nefastas, de modo que é importantíssimo o governo se conscientizar da necessidade de estar atento e vigilante para prevenir tais atos.”

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