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quinta-feira, 28 março, 2024

Filosofia Pop: Rir é o melhor energético

Silas Correa Leite*
No antigo carro velho e mal-acabado, bem merreca, cor de burro quando foge, queimando óleo diesel, observei o adesivo encardido dizendo: Leia Kardec.  Pensei alto e bem melhor: Leia Jesus. Leia Marx, Freud, Nietzsche. Tô certo ou tô errado? Depois, num Ford Ká vermelho como pimenta-camari, eu li de soslaio: Consulte Sempre Um Advogado. Pensei, retrucando mentalmente: Consulte Sempre Seu Coração. Consulte Sempre Sua Mãe.
Das duas uma. Carro com muitos adesivos colados, com um monte de tranqueirada aqui e ali, “informam” que tem baby ou teen na família. Ou o dono é brega mesmo. Cafona. Ainda usam essa palavra? Já vi também: Cuidado, Bebê a Bordo. E, pior: Cuidado: Bêbado a Bordo. Essa é de lascar. Já vi de tudo. Até bolei, claro, coisas minhas. Mas já li ainda: Ame um Gordo. Contém Mais Zona de Afeto. (Nem preciso dizer que, além de algo calvo, estou algo obeso.)
Num caminhão de feira cheio de frutas, li o adesivo: Dirigido Por Mim, Guiado Por Deus. Mas também já li: Se Me Ver Abraçado Com Mulher Feia, Aparte Que é Briga. Nesses tempos bicudos do padre Marcelo Rossi batizando o Gugu no Rio Jordão (devia ser no Mar Morto?) tem muito veículo normalmente de mulher beata ortodoxa com o adesivo: Tenho Orgulho de ser Católico.
Mas também já vi: Tenho Orgulho de Ser Cristão. Ou: tenho orgulho de ser GLS… Eu luto pelo Dia do Orgulho Extraterrestre.  Sim, porque o Cristianismo (pra mim uma filosofia) veio antes da Igreja de São Paulo dos Apóstolos, e o verdadeiro que sobrou foi o ortodoxo russo, sem imagens, sem dogmas, sem marialização, essas coisas.
É o berço-matrix-ninhal.   Vale o estudo bíblico, não é nem uma questão de hermenêutica  teosófica, filologismo ou história medieval. Aliás, contrariando o adágio popular bocó, Política, Mulher, Futebol e Religião, se discute sim. E quem puder que banque o conhecimento. Quem pode mais chora menos. E quem quiser que volte a estudar tudo de tudo, muito de muito, para saber um tiquinho de um milésimo por cento de quase nadica de nada.
Somos todos eternos aprendizes, nenhuma verdade é cientificamente comprovada, só Deus é o Numero Um. E Gandhi dizia que todas as religiões são imperfeitas, porque foram inventadas pelo homem. Falou e disse. Fanatismo é outra coisa. Loquacidade e dialética não provam um caso concreto.
Eu sou do tempo que se ia ao Rio de Janeiro até para assistir um Fla-Flu entre o Vasco e o Botafogo. Valia  era a viagem com qualquer desculpa que pintasse na ocasião. Mas há os sarristas e seus disparates hilários. Carro rico: Rastreado por Satélite. Carro de bicheiro impune: Rastreado por Autoridade Corrupta. Carro de traficante: Rastreado pelo Fernandinho Beira-Mar.  Carro de sujeito metido a galã de meia tigela, um Antonio Fagundes qualquer depois da dengue: Rastreado Por Fofoqueiras. Carro de Coxinha: rastreado por Hipoglós. E vai por aí o trololó.
Aliás, carro de pobre é rastreado por uma indústria de multas e vazamento de óleo cru. Mas também já li, num fordeco bigode de um tipo metido a desbocado: Rastreado por Biscates. Imaginem só.
Li também, e não acreditei: Sou Professor. Não me assalte. Se tivesse espaço eu colocaria embaixo: Vá assaltar quem rouba mas diz que faz, vá roubar quem é corrupto e ladrão. Aí seria pegar pesado? Vão sacando.  Já vi também: Deus é Fiel. Claro. E da Gaviões da Fiel.
Muitos carros de novos crentes têm: Propriedade de Deus. E, sem querer fazer chiste ou escrever baixaria, mas já li também: Aprenda a emagrecer fazendo sexo. Tem de tudo. Pra todos os gostos. 
Ou muito me engano, ou muitos me enganam. Andei vendo aqui em Sampa, uns adesivos assim: Eu Não Votei Em Nenhum Fernando. Ou: Tucano Nunca Mais!   Um amigo meu jura que viu um assim: Visite O Rio de Janeiro, Antes Que o Garotinho Volte. Piada. Também li poucas e boas, tipo: O Homem-bomba nunca terá a segunda chance.
Já bolei das minhas. Sou bom nisso. Como Itararé é bonita, tem muito verde, ar puro, saquem só: It(Ar)(Ar)é.
Pegaram o insight?
Claro que, em terra de cego, Garotinho já foi secretário de Segurança Pública, e em Samparaguai, o estado-máfia do impune PSDB et caterva, o PCC tá no comando, mas, no frigir dos ovos, todo omelete é colesterol puro.  Hoje ando meio eclético.
Deve ser essa chuvinha fiada. Depois da tempestade vem a leptospirose?. Vi-me fechado em ensaios e revisitanças, daí dei-me a escrever essas abobrinhas quase picles etílicos. Mas leio de tudo.
De bula de purgante a olhos com vermelhidão. De entrelinhas a mundos e fungos. De gibi a Bíblia. De Platão a Seleções. De jornal a entrevistados nos talk-shows, nos movimentos consentidos, tácitos, implícitos, gestos impugnáveis, desdizeres e coisas assim. Apreendências…
Algumas amigas dizem que sou mago. Outra acho que sou louco. Tem até quem ache que sou bruxo. Um amigo diz que sou médium. Tento ser inteiro. Vai por aí a cantilena das carentes, bondosas, sensíveis e que pegam amizade facilmente.
Dalai Brahma Silas e suas “siladas”. E, claro, leio placas de picapes e caminhões. E placas de beiras de estradas. E de anúncios. Propagandas enganosas saco fácil. E me divirto. Tudo é conhecimento, quase filosofia pop. Dá pra ver a cara do dono do carro, pelo tipo do carro. De santinhos a patuás. De cruzes a adesivos. Aliás, namorei uma “mina” (ainda se diz mina?) que tinha tanta tatuagem, mas tanta tatuagem, que parecia um manuscrito do mar morto. Onde já se viu aquilo, tem cabimento?
E, falando sério, quem ri por último não entendeu a piada. Pior: no vestibular da vida, os primeiros serão os únicos.  O último a sair sempre paga a conta, não é assim que funciona sempre?. Afinal, o preço da boemia é a eterna indisposição fisiológica.
Tô indo. À bença, mãe. Guarde pudim de ameixa e manjar de baunilha pra mim que nesse Natal eu volto com tudo.
Quem estava com a corda toda era o Tiradentes. Quem não deve não tem. De divagar se vai a deriva. Rir é o que vale. O mau humor faz mal pra vida.  Nesse pique de violência, no Rio tal qual em Sampa, logo estaremos usando faixas a prova de bala no peito dizendo:
Não Atire em Mim. Sou Ser Humano.
Acredite se quiser. Então, mais do que nunca, teremos que, pelo menos parecer com um humanus, quando a hora hagá pintar na zona de agrião do perigo emergencial.  Humanus sem adesivo, claro. E sem tatuagens que identifiquem concorrências e deslealdades. Descobriram vida em Marte? Sim, porque na terra, nadica de nada. Ave Césio. Até porque, o marginal pode ser analfabeto e não saber ler.
E a pior ignorância é saber ler e não ler.
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*Silas Corrêa Leite – Da Estância Boêmia de Itararé. Membro da UBE-União Brasileira de Escritores. Texto da Série “Eram Os Deuses Corinthianos?”
E-mail: poesilas@terra.com.br
Professor, conselheiro diplomado em direitos humanos, jornalista comunitário, ciberpoeta e escritor premiado, consta em mais de oitocentos links de sites, até no exterior, entre eles Cronópios, Observatório de Imprensa, Correio do Brasil, EisFluências e outros, Prêmio Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor, Prêmio Paulo Leminski de Contos, Prêmio Ignácio de Loyola Brandão de Contos, Prêmio Biblioteca Mário de Andrade (São Paulo, Gestão Marilena Chauí), Prêmio Literal (Fundação Petrobrás, Curadoria Heloisa Buarque de Hollanda),   Prêmio Instituto Piaget/Cancioneiro infanto-juvenil, Portugal, vencedor do Primeiro Salão Nacional de Causos de Pescadores (USP-Parceiros do Tietê/Jornal O Estado de São Paulo/Rádio Eldorado) entre outros, publicou em revistas, jornais, tabloides, fanzines, como Revista da Web, Trem Itabirano, Panorama Editorial, Revista Construir, DF Letras, Mundo Lusíada (Portugal), etc. Autor, entre outros, de Porta-Lapsos, Poemas, All-Print, SP, Campo de Trigo Com Corvos, contos premiados, Editora Design, SC (finalista no Telecom, Portugal), DESVAIRADOS INUTENSILIOS, Editora Multifoco, GOTO, A Lenda do Reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, romance,  GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório, romance, e O Menino Que Queria Ser Super-Herói, romance infantojuvenil, ambos a venda site Amazon e do ebook de sucesso O RINOCERONTE DE CLARICE, onze contos fantásticos, cada ficção com três finais, um final feliz, um final de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, destaque na grande mídia (Estadão, Diário Popular, Revista Época) inclusive televisiva, por ser o primeiro livro interativo da rede mundial de computadores, tendo sido entrevistado por Márcia Peltier (Momento Cultural/Jornal da Noite, REDE BAND), Metrópolis e Provocações (TV Cultura), entre outros, e a obra, por ser pioneira e única no gênero, foi recomendada como leitura obrigatória na matéria Linguagem Virtual, do Mestrado de Ciência da Linguagem da UNIC-Sul de SC, tese de Mestrado na Universidade de Brasília e tese de Doutorado na UFAL. Seu estatuto de poeta foi vertido para o espanhol, francês, inglês e russo. Contatos: poesilas@terra.com.br

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