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sexta-feira, 19 abril, 2024

Grã-Bretanha não sairá tão cedo da União Europeia, mas… –

 Gilad Atzmon, Grã-Bretanha
http://www.gilad.co.uk/writings/2016/6/29/britain-is-not-going-to-leave-the-eu-anytime-soon
Apesar do resultado do referendo pró “Sai” [ing. Brexit], a Grã-Bretanha de modo algum deixará a União Europeia em futuro próximo previsível. Ninguém na Grã-Bretanha deu qualquer sinal de interesse ou desejo de invocar o Título V e iniciar oficialmente a saída da União Europeia. Além das complexas questões relacionadas aos efeitos legais do referendo acrescidas das complicações que se criam com a secessão da Escócia, já é perfeitamente claro que o pessoal que liderou a campanha pró “Sai” foram colhidos de surpresa pela própria vitória. Visivelmente não têm nem ideia de como se livrarão desse cadáver. De fato, os saidistas e praticamente todos os demais na Grã-Bretanha estão aliviadíssimos, agora que Cameron ofereceu a todos três meses de calma. Pressupõe-se que assim haverá tempo para toda a nação dar uma busca no Google e aprender o que significam as palavras União Europeia.
É visível que os líderes Tories saidistas: Michael Gove, Liam Fox e Boris Johnson comungam da mesma ambição de virem a ser o próximo primeiro-ministro. Mas se alguém espera que Gove ou Fox formulem estratégia coerente para o país sair da UE, ou é otimista ou ingênuo demais. Todos esses políticos corruptos, que perfilam entre os mais devotados servos do lobby estrangeiro CAI (Conservadores Amigos de Israel) [ing. CFI (Conservative Friends Of Israel)], têm-se mantido estranhamente mudos sobre o Brexit. Agem como se nunca tivesse havido referendo. E não é por modéstia.
Diferente de Gove e Fox, Boris Johnson, o político Tory que liderou a convocação para que todos saíssem da União Europeia, parece que já virou casaca. O homem está literalmente embasbacado com a própria vitória não desejada. “Não se pode dizer que 52-48 seja resultado esmagador” – disse ele à BBC.
Em artigo pós-referendo em The Telegraph Johnson escreveu que “Nunca poderei destacar suficientemente o quanto a Grã-Bretanha é parte da Europa e sempre será. Continuará a haver cooperação europeia intensa e sempre crescente e parceria em incontáveis áreas: as artes, as ciências, as universidades e na melhoria do meio ambiente. Cidadãos da UE que vivam nesse país terão seus direitos integralmente protegidos, e o mesmo vale para cidadãos britânicos que vivam na União Europeia.” Não me lembro de ter ouvido Corbyn ou o primeiro-ministro Cameron falar em termos assim tão entusiasmados e entusiasmantes sobre o relacionamento com a Europa, durante a campanha deles pró “Fica”!
Se alguém está preocupado com alguma consequência significativa que o futuro reserve, Johnson oferece perfeita garantia. “O povo britânico continuará a poder ir à e trabalhar na UE; viver; trabalhar; estudar; comprar casa própria e instalar-se definitivamente. (…) Continuará a haver livre comércio e acesso ao mercado único. A Grã-Bretanha é e sempre será grande potência europeia, oferecendo opiniões sempre relevantes e liderança em tudo, de política externa a defesa, contraterrorismo e partilhamento de inteligência – tudo de que temos de fazer juntos para tornar nosso mundo mais seguro.”
Quer dizer: o que mudou, ou o que resta da ‘necessidade’ de “Sair”? “A única mudança – e não acontecerá precipitadamente nem em pouco tempo – é que a Grã-Bretanha retira-se do sistema extraordinário e sem transparência da legislação da União Europeia.”
O que Johnson está dizendo basicamente é que a única consequência do voto “Sai” será decidir umas poucas questiúnculas em discussão com Bruxelas sobre imigração. “O Governo conseguirá tomar de volta para si o controle democrático da política de imigração, com um sistema equilibrado e humano que atenda às carências dos negócios e da indústria”. Parece que bastaram 24 horas e a renúncia de Cameron, para que Boris Johnson, campeão do saidismo, se convertesse em campanhista entusiasta pró-fiquismo.
Não é surpresa. O referendo do Brexit não passou de feio exercício de feio oportunismo político. Seus advogados Tories estão entre os mais horrendos neoconservadores no teatro político europeu.
Mesmo assim, os resultados do referendo são significativos. Se se deixa Londres, Escócia e Irlanda do Norte, logo se vê que a maioria dos britânicos são expressão viva de insatisfação. Os britânicos estão fartos de políticos controlados por interesses partidários e pela banqueirada global, e querem ver algum sinal de algum futuro real.
O povo que votou contra a União Europeia votou contra o tipo de capitalismo global que dá sustentação às carreiras políticas de Boris Johnson, Liam Fox, Michale Gove, David Cameron e também de Jeremy Corbyn e seu traiçoeiro Partido Labour.
A Grã-Bretanha não sairá em breve da União Europeia. Ninguém na arena política britânica pode implementar tal manobra. Mas os britânicos mandaram recado bem claro aos seus políticos. E essa ira não amainará.*****

Tradução: Vila Vudu

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