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sexta-feira, 29 março, 2024

Improviso de Pensatas Para Microensaio sociológico-historial

Nós Sobreviveremos

Será que nunca faremos senão confirmar

A incompetência da América católica

Que sempre precisará de ridículos tiranos?

Podres Poderes – Caetano Veloso

Silas Correa Leite*
… sim, nós sobreviveremos, irmãos. Nas cavernas, nas grutas, nas caravelas, nas galés, no nomadismo, nas diásporas, na fome, no tifo, nós SOBREVIVEREMOS. Não foi fácil, mas nós sobrevivemos.
… fomos usados nas pirâmides, na muralha da china, nas guerras de poderosos, entre gladiadores e incréus, nas falsas lutas ditas cristãs contra os bárbaros que eram todos, de impérios decadentes, e sobrevivemos.
… nas aterradoras colonizações de exploração, nos remos das naves, nos exílios forçados, nós sobrevivemos. Assim, por que um meteoro nos assustaria, se os dinossauros agora são bípedes, irracionais, e  as grades deles são ancestrais, estão no DNA deles?
… trabalhamos como escravos, como abusados servos, fomos usados como leva de gado, como moedas de troca, como status de posse e de poder, entre arados, engenhos, mas nós sobrevivemos.
… nós sobrevivemos, vivemos vergonhosas eras passadas, avós desterrados, pais escravos, filhos discriminados – dos filhos deste solo –  migrações, imigrações, abusos de poder, riquezas impunes, riquezas injustas, exploração, pagamos[S1]  alto preço em ferro e fogo e sangue, mas nós sobrevivemos…
… fizemos o trabalho sujo dos lacaios do poder, limpamos as sujeiras dos poderes todos, os brancos enfezados, fomos intimidados por uma elite burguesa, mas quando também derrubaram a Bastilha, lá estávamos nós, entre todos…
… nos usaram sem pudor, em nome de uma elite podre, de uma igreja-máfia, de estados fascistas, mas aqui e ali sujeitos, nós sobrevivemos. Ao fascismo, ao nazismo, aos golpes de estados, às ditaduras vis.
… sobreviveremos agregados nessa mistura de negros e brancos e índios. Somos isso. Juntos somos fortes. Feridos venceremos. Fomos misturados, mas isso nos fez fortes no amor e na dor, a miscigenação, rotulam eles, pretos, cafuzos, pardos, negros, mulatos, eles rotulam, separam, intimidam, mas nós sobrevivemos, sendo os excluídos, os descamisados, os pobres, a maioria absoluta da nação…
… fomos discriminados, ora em raça, ora em condição social, o desprezo, a injuria, e tachados de negros pobres, ora de formigas, ora de borra-botas, ora de nordestinos, ora de capiaus, ora de operários, ora de caipiras, ignorantes, ora isso, ora aquilo, mas nós sobrevivemos…
… sobrevivemos na senzala, e sobrevivemos despejados delas nos morros, barrocas, favelas, e sertões. Não nos indenizaram. Mas eles se indenizaram. Depois de trabalho escravo em minas, lavouras de café, as duras penas sobrevivemos. Somos duros na queda.
… depois a canalha do golpe militar de 64 para evitar reforma agrária que toda grande potência fez, como justeza social, e mataram Jango Goulart que nos queria dar mais do que a CLT do Vargas nos dera de direitos pétreos, mas nós sobrevivemos como Joãos Sem Terra num território continental. Uma ditadura atingiu o pagamento da divida social desde 1500.
… depois veio um janota e boçal sociólogo dito comunista e ateu, pseudo salvador da pátria, com um irreal plano real, e ferrou nossos direitos, em nome de um verniz moderno, de um tal neoliberalismo que quebrou nações do mundo todo. Mas ele tinha pose de sabido e era protegido pela corja da sociedade cloaca, de uma paulistaiada que adora paulistas corruptos da gema sem algemas. E nós sobrevivemos pela periferia S/A, entre guetos, palafitas, cortiços, becos e ruinas de um desmoronamento sem senso ético-humanitário.
… antes tínhamos gritado diretas já, anistia já, fora gorilas olivas, e assim de um modo ou de outro fundamos uma democracia frágil, fomos pra rua, os morros ganharam o asfalto das avenidas com nome de marechais bandidos, de empresários bandidos, de bandeirantes bandidos, de torturadores bandidos, ganhamos força como pretos, pobres, operários, e sobrevivemos. Do nosso seio nasceu um mito, uma lenda, um plantador de sonhos, com Gandhi, como Mandela, como Luther King, e nós o elegemos pelo sufrágio eleitoral da democracia.
… e com ele tivemos uma pátria para chamar de nossa, e o cabeça chata sem estudos, sem pose, sem medo do cheiro do povo, migrante da seca e provedor da mãe abandonada, nos deu um país, e por ele choramos, lutamos, protestamos, ele perdeu várias vezes de ganhar, foi xingado, humilhado, preso, rotulado, acusado, mas nós também fomos, e então  o tornamos nosso irmão, e com ele sobrevivemos…
… o metalúrgico humanista Lula do Povo escolheu uma mulher forte que o substitui no poder e que pensou em nós, e continuou seu processo de inclusão social histórico em 500 anos, não negociou com bandidos historiais que nos ferraram, com parte alienada do povo dopado pela curriola da imprensa indo à rua, mais uma mídia suja, os buchas de  canhão, e um usurpador traíra antipovo tomou no grito e num golpe insano e amoral a faixa presidencial que não lhe é de direito e nem lhe pertence. Eles torturam, sequestram, matam, derrubam aviões, fazem o jogo sujo, mas nós sobreviveremos. Nós não temos culpas nos cartórios da jornada da democracia…
… mas não estamos derrotados. Não pensem que estamos. Não se enganem. Nós sobreviveremos. O usurpador que negocia com bandidos dos cinco poderes, cortou nossos sagrados direitos, fez uma reforma que só era contra os pobres não contra os meandros de seus asseclas e agiotas ricos em bastidores sujos, mas nós sobreviveremos…
… nós sobreviveremos a esse ditador interino e seus asseclas combinados, suspeitos, sob investigação, ferindo estados de direito, com tal justiça podre, a mídia capanga, os pelegos de antros sindicais espúrios, mas nós sobreviveremos a isso também.
… somos a maioria absoluta da população. Nós sobreviremos. Se suportamos navios negreiros, capitães do mato, uma justiça torpe, tendenciosa e parcial, uma sociedade abutre, insensível, podemos suportar também um nefasto presidente marionete de enfeite, um zumbirionete tampão.
… sim, nó sobreviveremos. Temos coragem limpa. Temos as mãos limpas do sangue desses justos, desses sacrificados e alijados do sonho. Tomaremos pulso. O povo de novo tomará a direção da barca Brasil. Brasil, a batalha é nossa, o povo é a razão. Resistir é preciso, viver não é preciso.
…sim, eles querem um Brasil rico só pra eles, uma rastejante nação amorfa de máfias de quadrilhas impunes desde 1500, mas nós sobreviveremos à essa rasteira institucional, e nos faremos presentes, pelos campos, vilas e cidades, mais escolas, e também nas fábricas, nas universidades, nós sobreviveremos…
… perdoem a nossa cara feia e triste e amargurada, perdoemos  nossos calos em carne viva nas mãos de trabalhadores honestos que somos, batalhadores, perdoem nossos olhos vermelhos de chorar circunstanciais derrotas de percurso e luta, perdoem nossa bandeira murcha cheirando gás lacrimogênio, sangue seco e lágrimas, mas com nosso coração alquebrado, com nossas trôpegas pernas cansadas, ainda assim seguiremos lutando nas trincheiras paisanas por ética e legalidade ainda que tardia, com nossa metralhadora dialética cheia de lágrimas por um humanismo de resultados, com inclusão social, sim, faremos esse mal à eles todos; faremos essa mal à consciência deles todos. Faremos esse desafio como marca de desafio aos embustes palaciais deles todos, sim irmãos, a luta continua, perdoem, mas nós Sobreviveremos!
-0-
*Silas Correa Leite, blogueiro e ciberpoeta premiado.
Conselheiro Diplomado em Direitos Humanos e Democracia
Autor de GOTO, A Lenda do Reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, Romance, Editora Clube de Autores-SC
www.portas-lapsos.zipnet

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