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sexta-feira, 29 março, 2024

Ladrões da merenda presos. Cadê a mídia?

Por Altamiro Borges

Na semana passada, a Polícia Civil prendeu o ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Leonel Julio, e o presidente da União dos Vereadores do Estado, Sebastião Misiara. Eles são acusados de integrar a máfia da merenda escolar. Os mandados foram expedidos pela Justiça de Bebedouro, no interior paulista, e fazem parte da segunda fase da Operação Alba Branca, que apura o pagamento de propina em contratos superfaturados com o governo tucano. As prisões, porém, não foram manchetes nos jornais nem destaque nos telejornais. A TV Globo não acionou seus helicópteros e seus jagunços para repercutir as detenções. Como sempre, a escandalização da política é seletiva!

Segundo notinhas na imprensa chapa-branca, ao todo foram cumpridos 17 mandados nas cidades de Bebedouro, Barretos, Severinia, Campinas e São Paulo, sendo dez de busca e apreensão e sete de prisão temporária.  Mas o atual presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Capez (PSDB), ainda não foi incomodado pela Polícia Civil. Isto apesar dele ter sido citado inúmeras vezes como um dos destinatários da propina por ex-dirigentes da Cooperativa da Agricultura Familiar (Coaf). O deputado nega qualquer envolvimento no “merendão” e o governador Geraldo Alckmin, o “picolé de chuchu”, já jurou que o serviçal tucano é inocente. É o que basta para a mídia venal enterrar o escândalo!

Para relembrar os esquecidos – já que o caso está sendo abafado pela imprensa -, a primeira fase da Operação Alba Branca foi deflagrada em 19 de janeiro, em uma ação conjunta da Polícia Civil e do Ministério Público. Dirigentes da Coaf apontaram, além de Fernando Capez, os deputados federais Baleia Rossi (PMDB) – muito ligado ao “impoluto” Michel Temer – e Nelson Marquezelli (PTB) e o deputado estadual Luiz Carlos Godim (SD) – muito chegado ao “ético” Paulinho da Força – como os principais beneficiários do esquema. Ele cobrariam propina, que variava de 10% a 30%, sobre o valor da merenda destinada às escolas públicas.

As investigações também lançaram suspeita sobre o chefe da Casa Civil, homem da inteira confiança do governador Geraldo Alckmin (PSDB), e sobre o secretário de Educação de São Paulo. Um grampo da Polícia Civil, feito em 4 de dezembro, dia da demissão do ex-secretário, Herman Voorwald, revela que integrantes do esquema que fraudava a merenda ficaram preocupados com as mudanças na pasta da Educação. Eles foram avisados da queda de Voorwald pelo ex-chefe de gabinete da Casa Civil, Luiz Roberto dos Santos, o Moita, que também os instruiu sobre como aumentar os ganhos em um contrato vigente com o Estado desde março.

Os dois presos na terça-feira passada (29) simplesmente já sumiram da mídia tucana. Leonel Julio, do antigo MDB, foi presidente da Assembleia Legislativa entre 1975 e 1976, durante a ditadura militar. Envolvido em outros casos de corrupção, ele teve seu mandato cassado e perdeu os direitos políticos por dez anos. Seu filho, Marcel Ferreira, foragido desde 19 de janeiro, foi apontado como o lobista do esquema. Já Sebastião Misiara foi vereador em Barretos por 25 anos pelo PFL (atual DEM). Também vale lembrar que o “merendão” desviou R$ 7 milhões em contratações fraudulentas, segundo cálculos iniciais do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Ribeirão Preto.

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