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sexta-feira, 19 abril, 2024

O BRASIL QUE NÃO DÁ CERTO

O Brasil industrial vem sendo sistematicamente sabotado. Primeiro pelo Brasil agrário e exportador, depois pelo financismo, pela banca. Agora com a ajuda do poder judiciário. Por que não se pergunta quem ganha com esta situação de dependência? Porque a resposta é óbvia; constituem o poder no País o judiciário, o legislativo e o sistema financeiro. 

Pedro Augusto Pinho*
Vários historiadores e sociólogos apontam os séculos de escravidão no Brasil como uma das mais importantes razões que tem impedido o desenvolvimento nacional. Efetivamente, foram gerações após gerações criadas num sistema de segregação, discriminação, como acentuariam, no último século, o francês Pierre Bourdieu e o brasileiro Jesse Souza, num quadro social de exclusões, de severas distinções.
Esta distinção não valoriza o ganho resultante do trabalho, mas de transferências patrimoniais nem sempre lícitas, de rendimentos financeiros ou de intermediações e de privilégios econômicos, fiscais e nas mais diversas situações e ocasiões. O trabalho é para os inferiores sociais, para o andar de baixo, como se referem articulistas atuais.
Toda burguesia, em especial a menos próxima do poder, exacerba esta discriminação, talvez como a forma de se impor, sem qualquer outra qualificação a apresentar.
Recentemente tive ciência de um caso exemplar e que certamente meu caro leitor há de conhecer tantos outros. Uma dessas senhoras burguesas, com tom imperativo de voz, chegou-se à grade de um condomínio e se dirigiu a um operário, que trabalhava no espaço entre a grade e o prédio, ordenando: entregue este envelope à dona x. O operário, que nem era empregado do Condomínio, quedou-se surpreendido e mudo. Aproximou-se, então, o vigilante que lhe deu bom dia e perguntou o que desejava. Tenho para mim que o bom dia, o mínimo com que uma pessoa educada deveria iniciar qualquer conversa, vindo de um “inferior”, foi tomado como agressão. E foi dessa forma, ser destratada, que ela comunicou à moradora, sua amiga, o fato. Logo a moradora exigiu da administração do condomínio a demissão do “faltoso”, do desrespeitoso empregado que evidenciara, talvez ingenuamente, cumprindo o que aprendera no treinamento profissional, a soberba da amiga.
A grande maioria das que bateram panelas na Avenida Atlântica e na Paulista foram motivadas pelo fim do regime de escravidão, que era imposto às empregadas domésticas, por lei sancionada pela Presidente Dilma.
Também o ódio aos petistas vem, em grande parte, da ascensão econômica dos pobres e miseráveis pelas medidas adotadas nos governos de Lula e Dilma. Com tal estado psicológico, qualquer acusação aos petistas era não só bem aceita, sem qualquer reflexão, mas imediatamente difundida. Veja como um exemplo inacreditável a “denúncia” que a Friboi era do filho do Lula. Uma simples visita ao site da Bovespa estamparia todos os acionistas e, salvo se a família proprietária há mais de uma geração fosse “laranja”, não resistiria a tal falsidade.
Mas é esta classe, formada na escravidão, que constitui a quase totalidade da burguesia brasileira, sem personalidade, pois acostumou-se a macaquear os costumes europeus e norteamericanos, mesmo no calor equatorial e tropical do Brasil. E também servil aos detentores do poder, pois a bajulação é moeda corrente para obtenção de benefícios que as ajudam a manter suas inexplicáveis arrogância e soberba.
O Brasil industrial vem sendo sistematicamente sabotado. Primeiro pelo Brasil agrário e exportador, depois pelo financismo, pela banca. Agora com a ajuda do poder judiciário. Por que não se pergunta quem ganha com esta situação de dependência? Porque a resposta é óbvia; constituem o poder no País o judiciário, o legislativo e o sistema financeiro. Todos os golpes se dão no executivo, que pode colocar no Poder um brasileiro que seja nacionalista e democrático. Mesmo que seja somente nacionalista, como ocorreu em certo momento dos governos militares, ele também vai sofrer, com mais sofisticação, um golpe.
Nesta primeira semana do tempo comum, leem-se os evangelhos de São Marcos. Neles há o ensinamento que é preciso curar a mente, para depois curar o corpo. Entramos num domínio bastante controvertido que pretendo tratar oportunamente: a educação. Sempre sofremos, com as exceções de praxe, o ensino colonial. A pedagogia dos saberes, básica para a autoestima, para a valorização das identidades é sempre depreciada, enquanto valorizada a erudição oca, não operacional.
Esta análise não é surpreendente nem inédita. Apenas não tem a divulgação que mobilize os que tem sido sempre derrotados, o povo brasileiro. Recente revelação por agentes estrangeiros dos preparativos e dos trâmites para o golpe de 2016, chamado “golpe suave”, fica restrito a poucos interessados na soberania nacional e na democracia.
São estes brasileiros preconceituosos, escravagistas e arrogantes que se unem aos interesses estrangeiros, traem a Nação, e são os mais corruptos e ávidos de mordomias que agem para o Brasil não dar certo.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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