Por Manuel Vázquez de la Torre
Como consequência da repressão aos protestos, 61 palestinos foram assassinados a tiros, entre estes, sete crianças, pelos soldados sionistas.
Além disso, 2.771 mil manifestantes ficaram feridos, e 1.359 mil por impactos de balas de combate. Nos hospitais da Faixa permanecem neste momento 130 dos feridos internados em estado muito crítico.
Esta constitui a ocasião em que as ações ofensivas israelenses causam mais mortos desde 2014, quando no verão desse ano os efetivos de Tel Aviv atacaram a Faixa com um saldo de 2.500 mil mortos em 40 dias, entre eles, uma esmagadora maioria de civis, incluindo mulheres e crianças.
Ao todo, desde que iniciaram no último dia 30 de março as manifestações da Marcha pelo Retorno todas as sextas-feiras em Gaza, o exército israelense matou 97 civis palestinos, incluindo 12 crianças, ferindo 12.271 mil pessoas, sendo 3.598 mil com munição de combate, segundo contabiliza a organização Unrwa-Espanha.
Durante esses protestos, a população de Gaza reclamava seu direito ao retorno a suas terras ancestrais, de onde foram sistematicamente expulsos a partir do período entre 1947-1949, durante a criação do Estado de Israel, fato conhecido como Nakba (catástrofe).
Mas essas ações de despojo, realmente um ato de limpeza étnica, não foram resultantes de uma situação conjuntural, mas suas raízes se fundam nos marcos teóricos do sionismo político moderno.
Já em 1895, o pai dessa corrente de pensamento, Theodor Herzl, escreveu que para criar um Estado israelense na Palestina sob mandato britânico deveria ser empreendida ‘a expropriação e a eliminação dos pobres (palestinos) de maneira discreta e circunspecta’.
Anos depois, em 1937, David Ben-Gurion (posteriormente primeiro-ministro de Israel, em 1948) declarou seu apoio ao deslocamento forçado da população palestina, principalmente os camponeses, pois não via ‘nada imoral nisso’.
Ao criar-se por ordem das Nações Unidas o Estado de Israel, este inicialmente se edificou em 55 por cento das terras do mandato britânico na Palestina, com Jerusalém, convertendo-se em uma cidade sob tutela internacional.
Imediatamente os líderes sionistas puseram em marcha o longamente planejado ‘processo de transferência’ da população palestina nativa. E, como era de se esperar, não se fez por bem.
Como consequência, entre 250 mil e 350 mil palestinos foram expulsos de seus lares pelos paramilitares sionistas entre 1947 e a declaração de independência de Israel, em 15 de maio de 1948.
Para fins do ano subsequente essa cifra se elevaria a 750 mil e um milhão de pessoas.
Hoje em dia, o número de refugiados e deslocados palestinos, incluindo sobreviventes da Nakba e seus descendentes, ascende a aproximadamente 12 milhões de pessoas.
Se durante quase dois mil anos o povo de Israel vagou por todo o mundo, agora, de maneira deliberada e a partir de uma postura de força, condena ao exílio boa parte do povo palestino, ao qual é negado o direito ao retorno.
Nesse contexto, como assinala Saeb Erekat, membro do Comitê Executivo da OLP, enquanto o povo palestino continua suportando 70 anos da Nakba em curso, limpeza étnica e exílio, bem como mais de 50 anos de ocupação israelense, Washington decidiu celebrá-lo mudando sua embaixada para Jerusalém.
Ao comentar o passo dado pelos Estados Unidos, o presidente palestino Mahmoud Abbas ressaltou que ‘o que vimos em Jerusalém não foi a abertura de uma embaixada, mas de um assentamento estadunidense’.
‘Se antes tínhamos em nossa Pátria colônias israelenses ilegais levantados com ajuda estadunidense, hoje temos uma colônia estadunidense em Jerusalém oriental erguida contra a nossa vontade’, enfatizou.
Entre outras consequências, a ação estadunidense, segundo os palestinos, desqualifica automaticamente Washington como possível mediador de um eventual processo de paz, que à luz da intransigência israelense, a cada dia se torna mais difícil de levar a bom termo com a criação de um Estado palestino nas fronteiras de 1967.