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sexta-feira, 26 abril, 2024

Uma vacina cubana eficaz contra a hepatite B

Cuba mostra zero casos de infecção pelo vírus da hepatite B aguda em crianças menores de cinco anos desde 2000, graças à capacidade de vacinação gratuita de cem por cento da população infantil
A doutora Zurina Cinza Estévez, uma das líderes nas investigações da vacina contra a hepatite B. Photo: Nuria Barbosa León

CUBA exibe como um sucesso relatórios de zero casos de infecção pelo vírus da hepatite B aguda em crianças menores de cinco anos desde 2000, graças à vontade política de vacinação gratuita de cem por cento da população infantil, desde as primeiras horas após o nascimento do bebê.

«A esse dado deve ser acrescentado que, a partir de 2007, não há relatórios da doença em idades precoces até 15 anos», segundo comentou ao Granma Internacional a doutora Zurina Cinza Estevez, a cargo do departamento de estudos clínicos de vacinas, pertencente à vice-direção de Pesquisas Clínicas do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB), de Havana.

Para alcançar tais resultados, na Ilha caribenha é produzida, há mais de vinte anos, a vacina recombinante preventiva contra a Hepatite B, Heberbiovac HB ®. «Nossa vacina não depende de um vírus cultivado, mas de uma proteína recombinante obtida por meio de uma informação genética introduzida numa levedura, à qual se transforma seu próprio material genético. Esta levedura é capaz de se tornar uma fábrica, na mesma medida em que produz enzimas e outras substâncias para seu funcionamento, gerando a proteína recombinante conhecida por antígeno de superfície da hepatite B, com ela, a vacina é feita», explicou a doutora.

«Este antígeno de superfície pode ser utilizado na produção da vacina monovalente isto é, vacina específica unicamente contra a Hepatite B, ou pode também ser utilizada de forma combinada, fazendo parte da vacina pentavalente Heberpenta®-L, indicada para a imunização contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo B.

Mais recentemente, em Cuba, também foi obtida a HeberNasvac®, uma vacina recombinante terapêutica administrada pelo nariz, combinando algumas doses por via subcutânea. Nesta vacina terapêutica é utilizada uma mistura do antígeno de superfície com outro antígeno recombinante também, o antígeno da nucleocápside da hepatite B. A nova formulação permite a interação de antígenos nas amídalas e estimula tanto a imunidade sistêmica como em nível das mucosas.

HeberNasvac® é outra opção disponível para o tratamento de pacientes adultos com infecção crônica pelo vírus da hepatite B. Até o momento, demonstrou um excelente perfil de segurança com um número reduzido de reações adversas, de curta duração e leves. As mais frequentes são: dor no local da injeção, espirros, secreção nasal, comichão nasal e febre ligeira, inferior a 38 graus Celsius.

«Além disso, o tratamento é mais curto utilizando menos doses de HeberNasvac® (15 doses em 20 semanas) em comparação com o Interferon Pegilado (outro medicamento) que requer 48 doses em 48 semanas de tratamento, ou comparado com a utilização indefinida de antivirais, geralmente prescritos para a vida toda», expressou a cientista, garantindo a existência do produto para atender às necessidades da população cubana e com capacidade de exportar a outras nações.

Os cientistas observaram um efeito antiviral pós-tratamento superior a outros medicamentos existentes, com uma atividade imunomoduladora específica contra as duas proteínas recombinantes. Há também evidências de maior efetividade no acompanhamento em longo prazo e em genótipos difíceis do vírus, com benefícios para os pacientes que foram tratados antes com outros medicamentos disponíveis, sem terem conseguido controlar a infecção.

Dados fornecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) destacam a existência de 257 milhões de pessoas cronicamente infectadas com hepatite B no mundo, que poderia levar a uma cirrose hepática ou um carcinoma hepato-celular em 25% dos pacientes, o que poderia ser a causa da morte de 650 mil pessoas.

Enquanto a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) divulgasse em seus relatórios que, na região das Américas, 3,9 milhões de pessoas vivem com hepatite B crônica e 7,2 milhões com hepatite C crônica, o câncer de fígado é a quarta causa de morte por essa entidade entre os homens e a sétima entre as mulheres do hemisfério ocidental, o que representa um grande problema de saúde pública.

Vacina Terapêutica HeberNasvac®. Photo: Nuria Barbosa León

Por estas razões, depois de que em 30 de junho de 2015 Cuba recebesse a validação da OMS como o primeiro país do mundo que elimina a transmissão vertical do HIV e a sífilis, a OPAS nos chama para obter também a validação de eliminar a transmissão vertical de hepatite B. Tudo isso no quadro de estratégias traçadas para eliminar a doença como um problema de saúde global até o ano de 2030.

Lembre-se que o Programa de Imunização de Cuba surgiu em 1962, como resultado de transformações políticas e sociais iniciadas em 1959 com o triunfo da Revolução, quando as doenças transmissíveis, incluindo doenças previsíveis por vacinas, causavam a maior morbidade e mortalidade nas crianças.

A organização do sistema nacional de saúde permitiu que anualmente sejam administradas cerca de 4,8 milhões de doses de vacinas simples ou compostas que protegem contra 13 doenças, incluindo uma vacina pentavalente, cujos cinco componentes são produzidos no país. A vacinação contra a hepatite B nas primeiras 24 horas após o nascimento completou-se 19 anos antes da meta estabelecida pela OMS, graças à contribuição dos cientistas cubanos.
QUADRO:
• A hepatite é uma inflamação do fígado comumente causada por uma infecção viral por um dos cinco vírus da hepatite (tipos A, B, C, D e E). Pode causar infecções agudas e evoluir para uma doença hepática crônica, cirrose, câncer ou inclusive a morte. As infecções por hepatite B e C são transmitidas através de sangue infectado, agulhas e seringas contaminadas, e entre pessoas que se injetam drogas. No caso da hepatite B também pode ser transmitida através de relações sexuais desprotegidas e de uma mãe infectada para seu filho recém-nascido.

As hepatites B e C geralmente se manifestam como infecções crônicas que podem permanecer assintomáticas por longos períodos de tempo, muitas vezes por anos.

Quadro Oficial da Vacinação Infantil em Cuba

Vacina Protege contra Data de início das doses Lugar de aplicação
B.C.G Formas graves de tuberculose 24 horas após o nascimento Maternidade
Hepatite B Hepatite B 24 horas após o nascimento Maternidade
Heberpenta L (D.P.T, HB, Hib) Difteria, coqueluche, tétano, hepatite B e Haemophilus influenzae b 2, 4 e 6 meses Policlínica
DwP.T Difteria, coqueluche e tétanos 18 meses (reativação) Policlínica
Quimi-Hib Haemophilus Influenzae tipo b 18 meses (reativação) Policlínica
Va-mengoc-BC Meningococo B e C 3 e 5 meses Policlínica
PRS Parotidite, rubéola e sarampo 12 meses e 6 anos (reativação) Policlínica e escola
DT Difteria e tétano 6 anos Escola
Vax Tyvl Febre tifóide 10, 13 e 16 anos Escola
TT Tétano 14 anos Escola
IPV Poliomielite 4 meses Policlínica
OPVb Poliomielite Campanhas anuais Policlínica

Fonte: Revista Pan-Americana de Saúde Pública, Vol 42, abril de 2018

Pode ser baixado gratuitamente em http: //bit.Iy/2sLjiqL

Eliminação de doenças em Cuba pela vacinação

Doença Início da vacinação Ano do impacto da vacinação Tempo Impacto final
Poliomielite 1962 1962 4 meses Eliminada
Coqueluche 1962 1997 35 anos Eliminada
Tétano neonatal 1962 1972 10 anos Eliminada
Tétano 1962 1987 19 anos Eliminada
Difteria 1962 1879 17 anos Eliminada
Sarampo 1971 1993 22 anos Eliminada
Rubéola 1982 1995 13 anos Eliminada
Parotidite 1986 1995 9 anos Eliminada
Síndrome da Rubéola Congênita 1986 1989 3 anos Eliminada
Meningite pós-parotidite 1986 1989 3 anos Eliminada
Meningite tuberculosa 1962 1972 10 anos Eliminada
Meningite por H. influenzae tipo b 1999 2001 2 anos Taxa ˂0,1 x 105 habitantes
Hepatite B em crianças menores de 20 anos 1992 2001 9 anos Taxa ˂0,1 x 105 habitantes
Meningite meningocócica BC 1988 1993 5 anos Mortalidade ˂98%

Morbilidade ˂93%

Febre tifoide 1962 2000 38 anos Taxa ˂0,1 x 105 habitantes

Fonte: Revista Pan-Americana de Saúde Pública, Vol 42, abril de 2018

Pode ser baixado gratuitamente em http: //bit.Iy/2sLjiqL

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